segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Entrevista com Angela RoRo

“Feliz da vida!” é o título do mais recente CD e DVD de Angela RoRo, e não poderia ser mais apropriado para definir o momento que vive, celebrando novas parcerias com Ana Carolina, Sandra de Sá, Jorge Vercillo e Moska, além das participações de Frejat, Maria Bethânia e Diogo Nogueira no trabalho composto majoritariamente de músicas inéditas – “Compasso”, o último somente com canções novas, foi lançado em 2006. Mas não é só isso, no mês de abril foi lançado o disco “Coitadinha bem feito”, um tributo à sua obra idealizado pelo DJ Zé Pedro e o jornalista Marcus Preto, na voz de cantores surgidos no cenário musical nos últimos anos. Um momento especial numa carreira que teve sua estreia em disco tocando gaita (ao contrário de flauta, conforme consta no encarte original) na canção “Nostalgia”, do disco “Transa” (1972), o segundo e último feito em Londres no período em que Caetano Veloso lá foi exilado, peça fundamental na extensa discografia do artista. Contudo, sua verve autoral já datava de bem antes, quando aos seis anos compôs uma guarânia (gênero musical de origem paraguaia), batizada por sua mãe de "Mate verde", conforme revela na entrevista que segue. Em 1979, após já ter sido gravada pelo grupo As Frenéticas, Ney Matogrosso e Marina Lima, Angela lançou seu primeiro disco, hoje considerado um grande clássico da música brasileira, tanto pela qualidade de suas composições, várias das quais fizeram sucesso, quanto pela vigorosa interpretação vocal que caracterizaria a sua obra. Desde então, onze discos, muitas músicas conhecidas e gravações por artistas de peso depois, Angela chega de cara e alma limpas a “Feliz da vida!”. “Meu medo é minha coragem / de viver além da margem / e não parar”, ela já dizia no primeiro disco. Sorte nossa!

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Papai ganhava muitos convites para teatro, cinema, circo, opera e shows. Com isso, comecei a frequentar o Teatro Municipal do Rio de Janeiro desde os sete ou oito anos de idade. Assisti a varias obras, como "Pescador de pérolas", e fui a concertos das obras de Bach, Chopin, Beethoven, Mozart... Depois, na adolescência, ia ver Maria Bethânia, Som Imaginário, frequentava rodas de Samba com Cartola e Zé Keti. E desde a infância, muito Cinema! De Jerry Lee Lewis a "Sissi - A Imperatriz", com Romy Shneider, e "Gigi", com a maravilhosa Leslie Caron. Oscarito, Zé Trindade, Zezé Macedo... E TV, que é fundamental.

2. Qual a sua formação?

Oficialmente não fiz faculdade, tão pouco universidade. Sou autoignorante! Mas desde o cinco anos aprendo música em teoria e solfejo, além da prática de piano e teclado.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Sempre foi tão natural ter a música por perto que nunca pensei em ser nada... Já era. Com quase trinta anos estava insuportável viver sem uma renda, então resolvi ceder a esse destino de quase todos: trabalhar! Apesar dos pesares, me divirto!

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Meu trabalho que ano que vem completa trinta e cinco anos, foi, é e será o meu esteio. Foi sempre a música e a minha imensa vontade de me expressar através da arte que mantiveram a integridade da minha obra através de todas as dificuldades da vida. Minha entrega sincera à arte fez com que minha música me salvasse de muitos problemas e males. A música fez milagres em mim!

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Desde criança ouvi Calipso (com Harry Belafonte), Samba (com Noel Rosa, Aracy de Almeida e Ataulfo Alves), Jazz (com Frank Sinatra e Duke Ellington), Tango (com Carlos Gardel), e Bolero (com Lucho Gatica e Trio Los Panchos). Minha mãe, apesar de amadora, era extremamente musical.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Em 1979, quando comecei a dar continuidade aos shows e assinei contrato com a gravadora para gravar discos.

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Quando lancei meu primeiro disco já tinha uns dez anos de estrada e de experiências na bagagem, incluindo um repertório autoral com bastante definição e solidez. Nunca tive sonhos para serem demolidos, só não contava que minha franqueza e jeito espontâneo fossem me tornar alvo de agressões e difamações homofóbicas por parte de diversas pessoas. Isto foi um choque, pois fui criada em uma família de boa educação e bom caráter.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Realmente o ofício é sagrado quando se trabalha com vocação, dedicação e amor. Que a vida me proteja e me encha de saúde para poder levar canções e humor por muito tempo às pessoas.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Gosto de dormir bem, acordar tranquila, comer pouco e leve, depois tomo um banho e como algo mais consistente. Escolho roupas e sapatos, mais coisas como lenço, leque, meias e roupas de baixo extras numa malinha. Faço maquiagem e vou para o local do show. Este é um dia de trabalho com show, porém existem rotinas variadas para outras formas de trabalho, tais como fazer TV, Rádio, dar entrevistas e palestras, gravar, estudar, filmar, ser fotografada, escrever e compor.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Creio que tudo que propicie divulgação e tenha honestidade na arrecadação dos direitos do trabalhador artista é bem-vindo! As redes sociais são engraçadas e ajudam na nossa divulgação. Com meu site e perfil no Facebook tive um estímulo maior pela resposta do público e aumentei o alcance do meu trabalho.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Fica bem difícil por vezes, mas vamos dar uma chance para que a arrecadação dos nossos direitos seja feita de forma cada vez mais correta, e que a arte seja recompensada financeiramente tal como é com elogios e fofocas.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

O futuro é um mistério que evito decifrar!

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Nunca me perguntaram qual foi a primeira música que compus... Foi no acordeom, aos seis anos, uma guarânia. Minha mãe me ajudou, colocando o nome de "Mate verde". Por fim, estou lançando meus novos DVD e CD pela Bicoito Fino, intitulados “Feliz da vida!”. São treze músicas e parcerias inéditas, além de alguns sucessos, como “Malandragem”, do eterno Cazuza com Frejat. Estou FELIZ DA VIDA!

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