“Feliz da vida!” é o título do mais recente CD e DVD de Angela RoRo, e
não poderia ser mais apropriado para definir o momento que vive, celebrando
novas parcerias com Ana Carolina, Sandra de Sá, Jorge
Vercillo e Moska, além das participações de Frejat, Maria Bethânia e Diogo
Nogueira no trabalho composto majoritariamente de músicas inéditas –
“Compasso”, o último somente com canções novas, foi lançado em 2006. Mas não é
só isso, no mês de abril foi lançado o disco “Coitadinha bem feito”, um tributo à sua
obra idealizado pelo DJ Zé Pedro e o jornalista Marcus Preto, na voz de
cantores surgidos no cenário musical nos últimos anos. Um momento especial numa
carreira que teve sua estreia em disco tocando gaita (ao contrário de flauta,
conforme consta no encarte original) na canção “Nostalgia”, do disco “Transa”
(1972), o segundo e último feito em Londres no período em que Caetano Veloso lá
foi exilado, peça fundamental na extensa discografia do artista. Contudo, sua
verve autoral já datava de bem antes, quando aos seis
anos compôs uma guarânia (gênero musical de origem paraguaia),
batizada por sua mãe de "Mate verde", conforme revela na entrevista
que segue. Em
1979, após já ter sido gravada pelo grupo As Frenéticas, Ney Matogrosso e
Marina Lima, Angela lançou seu primeiro disco, hoje considerado um grande
clássico da música brasileira, tanto pela qualidade de suas composições, várias
das quais fizeram sucesso, quanto pela vigorosa interpretação vocal que
caracterizaria a sua obra. Desde então, onze discos, muitas músicas conhecidas
e gravações por artistas de peso depois, Angela chega de cara e alma limpas a
“Feliz da vida!”. “Meu medo é minha coragem / de viver além da margem / e não
parar”, ela já dizia no primeiro disco. Sorte nossa!
1.
Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como
espectador(a)?
Papai ganhava muitos
convites para teatro, cinema, circo, opera e shows. Com isso, comecei a
frequentar o Teatro Municipal do Rio de Janeiro desde os sete ou oito anos de
idade. Assisti a varias obras, como "Pescador de pérolas", e fui a
concertos das obras de Bach, Chopin, Beethoven, Mozart... Depois, na adolescência,
ia ver Maria Bethânia, Som Imaginário, frequentava rodas de Samba com Cartola e
Zé Keti. E desde a infância, muito Cinema! De Jerry Lee Lewis a "Sissi - A
Imperatriz", com Romy Shneider, e "Gigi", com a maravilhosa
Leslie Caron. Oscarito, Zé Trindade, Zezé Macedo... E TV, que é fundamental.
2.
Qual a sua formação?
Oficialmente não fiz
faculdade, tão pouco universidade. Sou autoignorante! Mas desde o cinco anos
aprendo música em teoria e solfejo, além da prática de piano e teclado.
3.
Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi
uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Sempre foi tão
natural ter a música por perto que nunca pensei em ser nada... Já era. Com
quase trinta anos estava insuportável viver sem uma renda, então resolvi ceder a
esse destino de quase todos: trabalhar! Apesar dos pesares, me divirto!
4.
Você pode nos contar um pouco da sua carreira?
Meu trabalho que ano
que vem completa trinta e cinco anos, foi, é e será o meu esteio. Foi sempre a música
e a minha imensa vontade de me expressar através da arte que mantiveram a
integridade da minha obra através de todas as dificuldades da vida. Minha
entrega sincera à arte fez com que minha música me salvasse de muitos problemas
e males. A música fez milagres em mim!
5.
Quais artistas lhe influenciaram?
Desde criança ouvi Calipso
(com Harry Belafonte), Samba (com Noel Rosa, Aracy de Almeida e Ataulfo Alves),
Jazz (com Frank Sinatra e Duke Ellington), Tango (com Carlos Gardel), e Bolero (com
Lucho Gatica e Trio Los Panchos). Minha mãe, apesar de amadora, era
extremamente musical.
6.
Quando passou a se considerar profissional?
Em 1979, quando
comecei a dar continuidade aos shows e assinei contrato com a gravadora para
gravar discos.
7.
Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?
Quando lancei meu
primeiro disco já tinha uns dez anos de estrada e de experiências na bagagem, incluindo
um repertório autoral com bastante definição e solidez. Nunca tive sonhos para
serem demolidos, só não contava que minha franqueza e jeito espontâneo fossem
me tornar alvo de agressões e difamações homofóbicas por parte de diversas
pessoas. Isto foi um choque, pois fui criada em uma família de boa educação e
bom caráter.
8.
Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?
Realmente o ofício é
sagrado quando se trabalha com vocação, dedicação e amor. Que a vida me proteja
e me encha de saúde para poder levar canções e humor por muito tempo às
pessoas.
9.
Como é o seu dia de trabalho?
Gosto de dormir bem, acordar
tranquila, comer pouco e leve, depois tomo um banho e como algo mais
consistente. Escolho roupas e sapatos, mais coisas como lenço, leque, meias e
roupas de baixo extras numa malinha. Faço maquiagem e vou para o local do show.
Este é um dia de trabalho com show, porém existem rotinas variadas para outras
formas de trabalho, tais como fazer TV, Rádio, dar entrevistas e palestras, gravar,
estudar, filmar, ser fotografada, escrever e compor.
10.
Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
Creio que tudo que propicie
divulgação e tenha honestidade na arrecadação dos direitos do trabalhador
artista é bem-vindo! As redes sociais são engraçadas e ajudam na nossa
divulgação. Com meu site e perfil no Facebook tive um estímulo maior pela
resposta do público e aumentei o alcance do meu trabalho.
11.
É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Fica bem difícil por
vezes, mas vamos dar uma chance para que a arrecadação dos nossos direitos seja
feita de forma cada vez mais correta, e que a arte seja recompensada
financeiramente tal como é com elogios e fofocas.
12.
Como você acredita que será o futuro da sua profissão?
O futuro é um
mistério que evito decifrar!
13.
Fale sobre o que você gostaria do seu
trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Nunca me perguntaram
qual foi a primeira música que compus... Foi no acordeom, aos seis anos, uma guarânia. Minha mãe me ajudou, colocando o nome de "Mate verde". Por
fim, estou lançando meus novos DVD e CD pela Bicoito Fino, intitulados “Feliz
da vida!”. São treze músicas e parcerias inéditas, além de alguns sucessos,
como “Malandragem”, do eterno Cazuza com Frejat. Estou FELIZ DA VIDA!
Para
conhecer mais do trabalho de Angela RoRo, visite sua página oficial:
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