quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Entrevista com Luis Carvalho aka Farsa












O que determina quem é ou não artista? Será que necessariamente o mercado ou a crítica? A entrevista com o ilustrador e diretor de arte Luis Carvalho, que assina as suas obras como Farsa, incita tais questionamentos ao colocar a realidade de um trabalhador que precisa prestar serviços para realizar sua arte autoral. Farsa faz trabalhos para grandes agências de publicidade e marcas, mas pontua uma diferença entre o trabalho de arte encomendado e o não, relativizando sua posição como artista por ainda não poder viver exclusivamente do último. O forte teor de grande parte de suas criações autorais nos remete a trabalhos destinados a um público especializado de quadrinhos. Seus desenhos de aquarela e nankim, assim como ilustrações e rascunhos, podem ser apreciados no mural acima. O retrato do artista junto deles foi feito durante um dia de trabalho na agência para a qual presta serviços. Quanto às perguntas feitas no início deste texto, elas ficam como sugestão de reflexão, já que nenhuma resposta é tão óbvia quando tais questões se referem a um trabalho que depende não apenas da subjetividade de seus criadores para existir, mas também da cumplicidade do público para que reverbere. Além disso, há uma lógica mercadológica que determina quais obras chegarão ou não aos seus destinatários, o que traz elementos fundamentais para a discussão em pauta. Enquanto isso, aproveitem a entrevista com Farsa, que segue abaixo:

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Eu diria que foram os desenhos animados. Como desenho desde pequeno, adorava analisar as diferenças de traço de um Perna Longa para o de um filme da Disney, por exemplo. Depois descobri os desenhos japoneses, os Animes. Não gostava muito daqueles rostos com olho grande e boca pequena, mas o carinho que eles tinham com a animação da personagem e todos os outros elementos visuais era maravilhoso. Agora, a "arte" no termo clássico da palavra, nunca me animou muito. Só fui ter um real contato na faculdade.

2. Qual a sua formação?

Sou formado no ensino médio pelo Colégio Objetivo. Nunca fiz nenhum curso de desenho. Meu treinamento intensivo ocorria durante o período letivo. Foi assim a minha vida inteira. Nem me pergunte como passei de ano e consegui terminar o colegial! Tentei cursar o Bacharelado em Artes Visuais na Faculdade Belas Artes, que era um excelente curso, por sinal. Porém, devido à gama de trabalhos que estavam aparecendo na época e um pouco à minha vagabundagem eu tranquei o curso e me apliquei somente a área publicitária.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Deixe eu me explicar antes, para não termos confusões. Nunca fui um cara muito chegado em "arte". Acho o termo muito vago e diversas vezes, transviado. Eu desenho. Desenho desde que nasci e sempre soube que seria o meu ganha-pão. Não sabia exatamente o quê faria, mas sabia que seria relacionado ao desenho. Hoje sou um ilustrador. Se mereço o título de artista não é uma decisão que cabe a mim.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Minha maior área de atuação é a publicidade. Entrei nela pois era de fácil acesso para mim, por saber desenhar e ter vários amigos designers e diretores de arte. Trabalho como freelancer para agências grandes como a JWT (Thompson), Publicis e Heads. É um mercado que paga muito bem, porém o trabalho é exatamente o contrário de "arte". Eu diria que está mais para manipulação de massas. 90% do trabalho é fazer rascunhos de layouts (arranjo gráfico de um pôster ou banner) e/ou story boards (espécie de história em quadrinhos sem falas, só para determinar os ângulos de camêra antes de uma filmagem) para comerciais de marcas de carro, xampu ou refrigerante. A real recompensa, o que poderia ser chamada de a "utopia do ilustrador", é ser chamado para fazer ilustrações finais de marcas grandes. Nessa situação, o artista ou ilustrador é chamado pois o cliente quer "aquele traço" específico e por isso é mais valorizado, dando a possibilidade de concorrer a prêmios, como Cannes ou Young Lions. Fiz as ilustrações do produto "Hershey's Mais" onde cada embalagem de chocolate é um pequeno toy art, e há pouco tempo atrás fiz a versão de natal do mesmo, junto com a Design Absoluto, onde também fiz ilustrações para uma embalagem de Panettone promocional de 4Kg da Bauducco. Também fiz a campanha de um projeto de cervejas artesanais de Curitiba chamado "The Beers", que sairá ano que vem, para a agência Heads. E agora estou trabalhando em ilustrações para o site Shutterstock.com, também para a Heads.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Sou muito influenciado pelos artistas de quadrinhos, que só passaram a ser um foco de interesse depois da minha adolescência. Sempre odiei super heróis, e por isso demorei pra descobrir os quadrinhos que me interessavam de verdade. Esses são os melhores ilustradores, na minha opinião: Jason Pearson (“Body bags”), Jamie Hewlett (“Gorillaz” e "Tank girl”), Darick Robertson (“Transmetropolitan”), Jock (“The Losers”) e Moebius, que dispensa apresentações. Agora, falando de artistas mais clássicos, Caravaggio e o barroco em geral me influenciaram muito, pelo visual pesado que as obras têm e o clima tenso que elas passam.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Quando começaram a me procurar querendo pagar pelos meus serviços. Simples assim.

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?/
8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Sinceramente, eu não fazia ideia do que esperar. Eu realmente caí de paraquedas nesse ramo. Tudo por causa da indicação de um amigo que trabalhava na Thompson. Só o que precisava era saber desenhar. Depois disso não fiquei mais um dia sem trabalho. Foi muito frenético no começo. Essas agências tiram o seu sangue se precisar, principalmente quando você é freelancer. Mas depois de um tempo eu peguei o embalo. Hoje eu vejo essa área como um belo ganha-pão e um ótimo treino, pois tenho que desenhar literalmente de tudo. Não existe "não saber fazer" isso ou aquilo. Mas como disse, é só um salário para poder aplicar em fazer os meus desenhos e não os dos outros.

9. Como é o seu dia de trabalho?

A maioria das vezes é muita correria. Como sou freelancer, sempre sou convocado de última hora para substituir alguém ou entrar num projeto que já está estourando o prazo e ajudar a agilizá-lo. Muitas vezes trabalho de final de semana e feriados, mas o bom é que dá pra cobrar taxas altas por esse tipo de serviço. A falta de uma rotina também é uma das coisas que mais me atrai na vida de freelancer.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Não muito, na verdade. Somente uma vez, há um bom tempo atrás, fui contatado pelo Orkut para participar de um projeto cultural. O trabalho vem mesmo a partir dos contatos que fui fazendo no ramo e de amigos do meio da publicidade e das artes plásticas.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Tendo a arte como ofício é difícil. Ganhar dinheiro fazendo algo que se ama é sempre muito mais trabalhoso. Poderia estar fazendo música ou andando de skate, mas minha renda vem da publicidade e paga as contas muito bem. É um dos maiores motivos pelos quais ainda estou na área. Mas gostaria mesmo é de estar ganhando a vida fazendo os desenhos que gosto, vendendo-os em exposições e sendo reconhecido pelas minhas idéias.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Essa eu vou ficar te devendo. No fundo, imagino que seja um ramo que continuará o mesmo por um bom tempo. Eu pretendo estar em outro lugar, provavelmente vendendo minhas obras em galerias para apreciadores, ao invés de vender desenhos obtusos para clientes manipuladores. Quando esse dia chegar, aí sim você pode me chamar de artista!

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

É uma profissão que me puxa até o limite, nos quesitos desenho, quantidade de trabalho e na pressão dos prazos. Eu nunca imaginei ter que ficar até as 4h da manhã para desenhar um amortecedor de carro feito de lego, ou começar o dia fazendo um monte de africanos num ritual tribal. Isso é algo que me mantêm com o pé no chão e sempre alerta sobre as minhas próprias habilidades e meus limites.

Para conhecer mais do trabalho de Farsa, visite sua página oficial:
http://nanobipede.carbonmade.com/
E visite sua página no Flickr:


Para ficar atualizado das novidades do Cultura Artfício, curta nossa página no Facebook:
E siga-nos no Twitter:

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Entrevista com Caio Echem





Quando se trata de palco, existem músicos e músicos. Polarizando, os que o ocupam timidamente e os que o tomam para si simplesmente ao pisá-lo. Caio Echem claramente está entre os últimos. Vendo sua desenvoltura e a conexão que estabelece de imediato com a plateia, é impossível não imaginá-lo cantando para grandes públicos. Importa dizer que existem muitas variações entre as polaridades citadas, tal qual nos próprios extremos. Não pense que todo artista que domina habilmente o palco precisa ser popularesco. A música do Caio Echem, acompanhado pelo Groove Team, transpira jovialidade com seu som swingado e grande potencial pop, mas com arranjos de uma elaboração rara na música com intenção radiofônica produzida atualmente. Ao lerem sua entrevista, ficará claro que existem muitos outros fatores além do talento que levam um(a) cantor(a) ou banda ao estrelato. Se fosse só pela qualidade, sua música “Vou descer ali na feira” estaria estourada nas FMs. Ou, em minha versão de Mallu Magalhães, eu tô ficando velho e tô ficando louco. Na verdade, doido está o mercado que continua a operar sob a lógica do jabá, que vem comendo seu próprio rabo ao somente promover músicas descartáveis, que não compõem um catálogo robusto para ser comercializado no futuro. E não me refiro somente ao que se convencionou entender por MPB, mas também ao dito Pop/Rock. As fotos de Caio Echem ensaiando foram feitas por Juliana Mascaretti. A sua entrevista segue abaixo:

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Pelo que me lembro, meu primeiro contato com a música foi aos 10 anos no carro da minha avó, ela adorava samba e nós sempre ouvíamos grupos de samba. Depois, mais tarde, aos 12 anos eu estava na casa do meu primo e ele me mostrou um disco do AC/DC.

2.     Qual a sua formação?

Estudei música na Faculdade de Música Carlos Gomes, porém não cheguei a concluir, tranquei o curso porque comecei a me questionar se o investimento na faculdade era tão necessário para minha carreira, sendo que eu já tinha em mente vender meu trabalho e sabia que, para isso, eu também teria que investir bastante dinheiro. O que vou dizer pouquíssimas pessoas falam, mas para gravar um disco com um produtor renomado ou em um grande estúdio, é necessário um investimento em torno de cinco mil reais por música a ser gravada, ou seja, um disco de dez músicas custa em torno de cinquenta mil reais. Fora isso, existe o investimento na divulgação do material que é outro processo no qual mais dinheiro é investido.

3.     Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Desde que eu comecei a tocar profissionalmente já tinha em mente viver de música, isso foi mais ou menos aos 16 anos, porém eu era muito novo e não tinha maturidade para tratar como um trabalho.

4.      Você pode nos contar um pouco da sua carreira? 

Comecei a tocar aos 12 anos, aos 13 tive minha primeira banda com meu amigo de classe Fred Ouro Preto. Como era uma banda de escola que nunca saiu do estúdio, serviu mesmo para aprendermos a tocar em grupo. Depois, dos 13 aos 16 anos, tive outra banda de músicas covers, com a qual tocávamos em bares e festivais de bandas de escolas. Aos 18 anos tive uma banda que se chamava Sorriso Vertical, formada por mim, Fred Ouro Preto, Adolfo Moreira, Anderson Souza e Felipe Rodrigues, que foi quando chegamos mais próximo de onde queríamos. Nessa época eu já gravava minhas músicas em casa com um equipamento bem precário. Quando finalizamos as músicas, pegamos meu computador, levamos para o estúdio de um amigo e foi a primeira vez que gravei com uma banda ao vivo. Com essa banda abrimos shows de grandes artistas como Capital Inicial, Marcelo Nova, Tia Anastácia, Marcelo D2 e Jota Quest. E tocamos em grandes casas como Credicard Hall, Via Funchal e em eventos das prefeituras de diferentes estados. Depois fizemos um vídeoclipe e colocamos na MTV, tínhamos tudo para dar certo, tínhamos as portas abertas porque um dos vocalistas, o Fred Ouro Preto é sobrinho do Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial. Mas éramos muito imaturos ainda, precisávamos de um produtor ou alguém que pusesse as coisas no lugar. Tínhamos a intenção de colocar as músicas nas rádios, mas haviam muitos palavrões, as letras falavam muita besteira, coisas de garotos novos e dessa forma era inviável vender nosso trabalho, mas não ouvíamos ninguém. Por fim, essa banda se desestabilizou, chegou em um ponto onde ou mudávamos para poder ir a diante, ou parávamos por ali e foi o que fizemos. Depois fui estudar Jazz, montei um trio de jazz instrumental, nessa época conhecei um saxofonista chamado Remi Chatain e o chamei para gravar algumas linhas no meu disco de musica instrumental. Ele me apresentou a outros músicos e acabamos montando uma banda que ainda existe, mas eu não faço mais parte, chamada Loungetude 46. Gravamos um CD, tocamos em diversas casas alternativas e participamos de diversos festivais. Fiquei nela mais ou menos dois anos e percebi que não tinha mais como eu permanecer no grupo, pois eu queria coisas diferentes para mim. Durante esse período com o Loungetude 46, toquei paralelamente com um grupo de samba rock, mas eram apenas músicas covers, fizemos festas de casamentos, bares etc.. Quando sai da banda, me vi livre e pronto para fazer o que eu pretendia, porém estava sozinho. Gravei um CD com minhas músicas instrumentais que eu sempre quis, mas sem a intenção de divulgar pra valer. Foi então que minha garota Juliana Mascaretti disse para eu mesmo cantar e gravar minhas canções. Até então eu fazia apenas a segunda voz nas bandas que participei, nunca tive a intenção de me tornar vocalista. O que eu queria era ser instrumentista, mas por uma questão de sobrevivência me tornei vocalista e comecei a gravar minhas músicas. Me identifiquei bastante com a historia do Lobão, foi mais ou menos assim que ele começou também. Atualmente tenho uma banda que me acompanha que eu prefiro chamar de "time". Hoje ela é formada por Pedro Caram, Guilherme Rocha, Marcelo Lervolino e Felipe Rodrigues (que tocou comigo anteriormente na banda Sorriso Vertical). Estou terminando de gravar meu CD, que teria inicialmente 11 musicas, mas preferi dividi-lo em dois e lançá-lo como dois EPs separados. Um com as músicas mais funkeadas, que leva o nome de uma das canções, "Não nos renderemos nunca", e o outro com as baladas, que também leva o nome de uma de suas músicas, "Fora do Eixo".

5.      Quais artistas lhe influenciaram?

Essa é uma pergunta difícil porque eu poderia citar de tudo, mas para não ficar tão extenso, vou falar os que mais me marcaram. Angus Young, o guitarrista do AC/DC – queria tocar como ele logo que comecei, me vestindo de terninho nos primeiros shows em festas de escola. Nelson Faria, Pat Metheny e John Schoefild foram alguns que me influenciaram muito quando comecei a estudar Jazz. Skank, Paralamas do Sucesso, Lenine, Lobão, Bob Schneider, John Mayer e Jazon Mraz são bandas/cantores que ouço muito até hoje.

6.      Quando passou a se considerar profissional?

Foi as 18 anos, com a banda Sorriso Vertical. Porém, só hoje, com 27 anos, acho que realmente trato a música como um trabalho.

7.     Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la? /
8.     Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Eu pensava que grandes artistas realmente viviam apenas de música. Hoje percebo que é muito difícil viver apenas da música porque um disco pode ser mais aceito que o outro e por isso não render da mesma forma. Ninguém diz, mas muitos dos grandes artistas investem dinheiro em coisas relacionadas a outro segmento, para não dependerem apenas da música.

9.   Como é o seu dia de trabalho?

Atualmente, como estou terminando meu disco, desde cedo começo a trabalhar nele. Acordo e já começo a ouvir, mixar, gravar e regravar tudo que for necessário para que fique pronto logo.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

De certa forma foi, mas ainda não tive o retorno que eu quero com a internet. Diferente do que muita gente pensa, também é necessária uma certa assessoria para fazer sucesso nas redes sociais, não basta postar o material.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Não, atualmente é inviável pagar contas e viver com a renda da música porque quando se é pequeno os cachês são baixos e muitas vezes precisamos de shows para divulgação, que geralmente não são remunerados. E, no meu caso, que sou um "cantor solo", o disco leva meu nome e não o de uma banda, portanto, o investimento não é dividido, tenho que arcar com tudo sozinho e com o dinheiro que entra eu pago os músicos, o estúdio, esse tipo de coisa.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Acredito que cada vez mais o artista viverá dos shows, pois a venda de CDs já era há muito tempo e o artista nunca ganhou de verdade com isso, quem faturou sempre foi a indústria. O que está acontecendo atualmente é o crescimento de pequenas agências que promovem o artista "uma vez que ele não precisa mais da gravadora". Ou seja, fecharam o mercado e para você conseguir entrar precisa "pagar por contatos".

13.   Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Nunca perguntam sobre os detalhes e eu os acho super importantes, como os timbres que usei para gravar as guitarras e violões, os detalhes da bateria... Por exemplo, na música "Não vai amanhecer", ela foi tocada como se fosse um "loop", quase não tem viradas e em vários compassos não tem a primeira nota do Hi Hat, isso para dar a leve sensação que o andamento leva a batida para trás. Também não têm pratos, que é para dar a ideia daquelas batidas de hip-hop. Nas bases troquei as guitarras por violões, foi uma ideia que tive para colocar minhas musicas dentro do padrão sonoro atual, deixando o som mais acústico. Fiz isso porque o mercado hoje está usando muito violão nessas gravações de sertanejo, e como o ouvido das pessoas já esta acostumando com isso, não seria um choque ouvir uma canção minha. Acho importante dizer que a música é arte, mas também um produto, e aqueles que pretendem viver de música precisarão vendê-lo. Já vi muitos músicos dizendo "não vou me vender" e eu digo que a frase "me vender" não pode ter esse caráter pejorativo, pois isso é extremamente importante. É como montar um restaurante: o objetivo é vender comida, se você faz um prato que ninguém quer comer, você não vai ganhar dinheiro e falirá. Mas isso não significa que tenha que fazer a mesma comida que todos os restaurantes. Acho importante a pesquisa, para que possa de alguma forma fazer músicas que realmente goste, ao mesmo tempo tornando-as vendáveis no mercado atual. Sempre repito a frase que ouvi do produtor Paulo Anhaia, que disse que musico não é um semi-deus e sim um operário. Um operário da arte, porém um operário. Então, colegas músicos, tenham mais humildade e respeitem o trabalho de outros músicos e outros estilos, não existe uma verdade única na musica.

Para conhecer mais do trabalho de Caio Echem, visite sua página no You Tube:
E curta sua página no Facebook:


Para ficar atualizado das novidades do Cultura Artfício, curta nossa página no Facebook:
E siga-nos no Twitter:






quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Entrevista com Nara Sakarê


Observar a atriz e preparadora de elenco Nara Sakarê trabalhar no projeto Grupo de Cinema Ap 43 foi uma experiência que me deixou impactado. Primeiramente pela proposta de reunir um grupo de atores disposto a se aprimorar na atuação para o cinema em seu próprio apartamento. Segundo, pelo processo de criação e desenvolvimento desses personagens, partindo das vivências pessoais destes atores. Participamos de um dos encontros do Ap 43 e pudemos ver uma a uma as cenas em construção, cuja característica comum era retratar a intimidade de seus personagens. Mostrar certos aspectos de suas personalidades que geralmente são escondidos pelas diversas máscaras que utilizamos no convívio social. A clara relação de confiança estabelecida entre os atores participantes e a diretora de elenco pautou aquela manhã de quarta-feira. Nara interferia nas cenas, direcionava os atores de forma precisa, hora em voz alta, hora sussurrando aos seus ouvidos, dependendo de sua pretensão dever ser do conhecimento do outro que contracenava ou não. Um diretor de fotografia e possível colaborador do projeto foi assistir às cenas e trocava ideias com ela. O fotógrafo do Ap 43 e o Bruno Caetano, que fez as fotos deste encontro para o Cultura Artfício, se dividiam para encontrar os melhores ângulos. Eu observava a movimentação, sempre atento à Nara Sakarê. Seu trabalho é minucioso e trata de ajudar o ator a encontrar o tom certo para cada personagem em dada situação, considerando também aspectos de ordem técnica quanto à linguagem cinematográfica. Recordo vividamente de uma cena recém criada que se passava na cozinha, na qual havia uma discussão entre um casal. Nara direcionava o elenco e pedia que a cena se repetisse, buscando a emoção correta que levaria os personagens a determinadas atitudes, a energia adequada necessária para a cena começar, se desenvolver e terminar. E, da mesma forma, conduziu todo o encontro daquele dia. Na hora de nos despedirmos, totalmente tomado pela forte energia desprendida no decorrer das cenas pelos envolvidos, perguntei como ela fazia para se desligar daquilo. Ela me garantiu que tem suas técnicas. As fotos, feitas pelo fotógrafo Bruno Caetano, mostram Nara Sakarê, retratada na foto do canto superior direito, dirigindo o elenco e as cenas em criação.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Em casa, com meu pai cantando e tocando violão. Venho de uma família de músicos por parte de pai e de circo por parte de mãe. Meus avós maternos eram trapezistas no circo, onde minha mãe cresceu.

2. Qual a sua formação?

A minha trajetória de vida me proporcionou algo mais poroso, mais amplo que uma formação formal, que são as minhas referências. Não herdei o dom musical de cantar nem tocar instrumentos, mas desde sempre foi muito física na minha relação com a música. Comecei a desfilar e a fazer comerciais de TV com 9 anos de idade (até hoje já fiz quase 300  filmes publicitários). Depois, na adolescência, comecei a trabalhar no circo (era ajudante de mágico, função também chamada de partner) e em seguida fui apresentar um programa na TV Bandeirantes local de Porto Alegre, no RS. Logo após isso tudo minha vida de modelo se intensificou muito, mudei para São Paulo, fiquei menos de um ano e fui para o Japão. Daí em diante fiquei viajando pelo mundo durante 8 anos como modelo, com breves retornos ao Brasil quando sentia saudades da minha família. Com 28 anos parei com a carreira de modelo e comecei a estudar interpretação para me tornar atriz. Fiz um curso regular de formação (Escola Nilton Travesso), fui aluna e depois assistente da Fátima Toledo e depois fiquei 5 anos no CPT – Centro de Pesquisa Teatral com Antunes Filho. Fiz muitos cursos livres. De lá pra cá tenho trabalhado como atriz e preparadora de elenco para cinema e TV. Mas hoje me vejo alem de atriz, uma boa diretora de ator. O fato de viajar muito pelo mundo todo me ampliou muito meus horizontes como ser humano e, lógico, como atriz.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Sempre desejei ser artista, na forma mais clichê e estereotipada. Eu só entendi o que é ser um artista de verdade depois que amadureci.  Só me dei conta que era artista quando comecei a identificar a minha necessidade interna da minha própria expressão. Cansei de ser modelo a vida toda e de fazer o que era esperado de mim. Foi uma necessidade, uma inquietação, um desconforto que não me deixou em paz até a maturidade chegar e eu conseguir dimensionar qual seria o meu caminho.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Quando eu era modelo eu tive a oportunidade de ter ido para a TV como varias ex-colegas que foram e estão lá até hoje: Luanan Piovani, Ana Paula Arósio, Carolina Ferraz, Maria Fernanda Candido etc.. Eu era muito tímida e sentia que precisava estudar e foi isso que fiz. Tenho estudado muito todos esses anos. Como atriz fiz oito filmes no ano passado e estou para estrear dois longas. Nunca tentei fazer TV, mas faria com o maior prazer. Me identifico mais com o processo do cinema, que é intenso.  Acabou a gente parte para outro, diferentemente do que no teatro. Mas foi o teatro que me deu base para tudo que desenvolvo hoje no cinema.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Dina Sffat, Antunes Filho, Fátima Toledo, Bel Teixeira, Wagner Moura.

6. Quando passou a se considerar profissional?

A minha postura em trabalho sempre foi muito profissional, eu comecei cedo e já tinha tido toda uma carreira artística de modelo antes de ser atriz. Passei a me sentir profissional quando senti que tinha amadurecido e deixado de ter dúvida quanto a ser atriz, quando eu cansei de ser aluna. Depois de tentar varias vezes desistir da profissão, depois de assumir o que sei e o que não sei. Bom, é isso: depois de assumir o que tenho e o que não tenho.

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Não me lembro pensando na profissão, mas no ato de atuar. Nunca parei pra pensar como seria minha vida como atriz, eu era modelo e já estava bem confortável naquele estilo de vida. Eu não tinha nenhum deslumbramento com relação a isso. Eu só pensava no prazer que teria em viver um personagem e outro.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

A ideia que tenho hoje é a da realidade: o cinema no Brasil ainda tem de andar muito. Falando de ator, nós não temos uma escola sequer que instrumentalize o ator para esta linguagem. Existem alguns workshops de preparadores de ator badalados que não são suficientes. O ator é rotulado e muito desrespeitado. Muitas vezes a pessoa que faz o casting para um filme nem leu o roteiro. Difícil alguém que olhe de verdade pra você e te permita ser ou propor algo. Aqui o ator não tem autonomia de nada. Se você não está na Globo, não existe, salvo alguns poucos que já alcançaram um certo patamar. E isso inclui mesmo atores de teatro maravilhosos (ganhadores até do prêmio Shell) que não dominam a linguagem. O mecanismo de ficar correndo atrás da maquina é perverso e muito cruel para o ator. Tudo converte sempre para que você se sinta uma pessoa desapropriada. Mas o bom é que hoje estamos fazendo mais cinema. Independente da qualidade, o exercício é necessário.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Agora, com o Ap 43, eu acordo, preparo minha filha, a levo para a escola, volto para casa e começo a correria de aprontar tudo para os encontros do grupo. Acabo o primeiro turno às 13hs, almoço, volto para casa, arrumo tudo para o segundo turno. Saio correndo para pegar minha filha na escola e até umas oito da noite me ocupo da casa e dela, depois volto a fazer as coisas do Ap 43 e assim vai, com adaptações de encaixes de reuniões, leituras de roteiros, reuniões do grupo, planejamento e novas parcerias. Me revezo entre meu marido André, um grande parceiro com quem tenho ótimas conversas, e a nossa filha Maria Rosa.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Muito! Faço tudo pela internet. Tenho um blog onde registro todo o conteúdo do nosso processo. Tenho um grupo no Facebook que é a nossa comunicação diária, e tenho uma outra página nele que é a nossa vitrine de divulgação do trabalho. Logo teremos ações de divulgação do teaser do Ap 43 bombando por aí na internet.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Ser ator é uma opção que se faz na vida e deve-se ter consciência de que ela vem com um pacote que implica talvez  em você não ter muito conforto e passar perrengues. E isso é real. Eu já passei por muitos, muitos perrengues. Normalmente as pessoas têm uma outra atividade paralela (a opção B) e hoje estou muito feliz por poder viver do que mais amo. O Ap 43 me dá estrutura para eu poder fazer arte e pelo menos ter uma vida digna. Mas já passei muitas aflições de imaginar que teria de fazer algo que não gosto para ganhar dinheiro. Tenho uma filha para criar. Já fui hostess, já trabalhei com produção de shows e agenciamento artístico e tradutora/interprete.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Do mesmo jeito que tem sido nos últimos anos: com pouca autonomia, para poucos e... com pouca preparação para a linguagem do cinema.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Eu gostaria que no cinema acontecesse mais na troca. Ninguém faz cinema sozinho, mas também não vejo muita gente que faz essa arte em coletivo. Às vezes parece que cada departamento está fazendo um filme diferente. Gostaria muito que as produções tivessem mais tempo de elaboração para os atores e mais troca entre atores e direção, e respeito pelos atores. Começando por dar a devida importância ao casting de um filme. Não existe nada melhor do que um set prazeroso, quando o cinema acontece. Mas o que mais desejo é que os diretores olhem de verdade para o ator que escolheu para o seu filme e dialogue com ele, que está ali para contar a sua história, a história que o diretor quer contar. Desejo que algum dia o nosso cinema não tenha mais que ficar na mão de um sistema de distribuição tão de fora e tão manipulativo. Fazer cinema já é difícil, imagina fazer para ninguém ver?


Para conhecer mais do trabalho de Nara Sakarê, visite seu blog:
http://narasakare.wordpress.com/
E curta a página do Grupo de Cinema Ap 43 no Facebook:


Para ficar atualizado das novidades do Cultura Artfício, curta nossa página no Facebook:
E siga-nos no Twitter: