Impossível falar de Fabiana Cozza sem tecer os melhores elogios à sua
grandiosa e afinadíssima voz, capaz de interpretar magistralmente as obras de
grandes cantoras como Elizeth Cardoso e Édith Piaf. Um detalhe da maior
importância é que não se trata de tributos meramente reverentes, mas da
celebração dessas obras com uma assinatura vocal própria. Fabiana não é uma
artista que pulsa contemporaneidade em seu trabalho, tampouco é uma que
descansa à sombra de caminhos já trilhados: seu critério de escolha é tão personalíssimo
quanto ao que interpreta que cantando os seus contemporâneos Kiko Dinucci,
Emicida e Rappin Hood, ou compositores consagrados como Paulo César Pinheiro,
Roque Ferreira e Jorge Aragão, soa original e, acima de tudo, atemporal. Embora
já tenha lançado três CDs e um DVD, é no palco que sua verdade mais se revela,
o que torna a experiência de assisti-la ao vivo obrigatória para qualquer
apreciador de boa música, independente de gêneros. Um desempenho marcadamente
teatral, com muita dança e a sua indefectível performance vocal deram o tom na
gravação do trabalho que gesta no momento, um DVD em comemoração aos setenta
anos que Clara Nunes, falecida em 1983, teria feito em 2012. Ao final, ovacionada
de pé pelo público, foi chamada de “divina”. Como Elizeth. Como poucas no país reconhecidamente
de cantoras que é o Brasil. Divinamente ela mesma. As fotos da artista foram feitas por Fernanda
Grigolin.
1. Quais
os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como
espectador(a)?
Desde criança meus pais me incentivaram a ouvir música e a participar de
eventos culturais. No colégio, aos 10 anos, cantava no coral e organizava
teatro com a minha turma, escrevia poemas, dançava.
2. Qual
a sua formação?
Sou formada em Comunicação Social - Jornalismo, pela PUC-SP.
3. Quando
e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi
uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Não pensava em ser artista. Despertei para a carreira após iniciar os
estudos na Universidade Livre de Música, aos 21 anos, quando comecei a me
apresentar ao lado da cantora Jane Duboc, com o grupo vocal “Novella”, formado
por estudantes. Antes disso, cantava na igreja de Santa Maria Madalena, no
bairro da Vila Madalena, em São Paulo.
4. Você
pode nos contar um pouco da sua carreira?
Comecei a cantar profissionalmente aos 21 anos, fiz teatro, dança e aos
poucos fui tateando o meu caminho artístico unindo estas três linguagens para
compor meu caminho de intérprete. Gravei até o momento três CDs e um DVD,
participei de shows de muitos artistas brasileiros (Leny Andrade, Emicida, Ivan
Lins, Dona Ivone Lara, Wilson Moreira, Nei Lopes, Zimbo Trio, entre outros),
cantei com orquestras e big bands
como a Orquestra Jazz Sinfônica, a Banda Mantiqueira e a Banda de Diadema, fui
a vários países – França, Espanha, Portugal, Japão, EUA, Canadá, Bulgária,
Chile. Sou parceira artística de vários colegas, como os pianistas Gilson
Peranzzetta e Yaniel Matos, além de ter participado de projetos de outros
jovens artistas como Antonio Loureiro, Tiganá Santana, Leandro Medina.
5. Quais
artistas lhe influenciaram?
Muitos... Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Alcione, Milton Nascimento, Elza
Soares, Nana Caymmi. Ouvi também muitos artistas internacionais como Ella
Fitzgerald, Carmem McRae, Sarah Vaughan, Duke Ellington, Oscar Peterson,
Mahalia Jackson etc...
6. Quando
passou a se considerar profissional?
Desde que decidi ser cantora.
7. Qual
era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?
Não tinha ideia do que era. Apenas a impressão de que os artistas eram
felizes pois fazem aquilo que amam. E eu estava certa nisso.
8. Qual
é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?
Acho que o artista é um comunicador em potencial e isso exige de nós uma
postura social e política consciente, atenta aos nossos dias. Um exercer
responsável da Arte.
9. Como
é o seu dia de trabalho?
Me divido entre a artista, empresária, articuladora, sonhadora, dona de
casa, esposa, amiga... Estou sempre conversando e trocando ideias e conhecendo,
lendo, observando outros trabalhos como aprendizado e possibilidade de me
melhorar.
10.
Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
Acho
que sim. Muitas pessoas sabem de mim e sugerem meu nome, me apresentam a outras
e assim a bola vai rolando.
11.
É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Demorei a conseguir isso. Foi e é uma luta sempre. Diária mesmo. Somos
autônomos e, num país onde Cultura e Educação não são prioridade, ficamos à
mercê da aprovação – ou não – de projetos patrocinados para respirar por alguns
meses com um pouco de tranquilidade.
12. Como você acredita que
será o futuro da sua profissão?
Difícil de responder... Estou batalhando todos os dias para chegar um
pouquinho mais longe.
13.
Fale sobre o que você gostaria do seu
trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Estou caminhando para
uma nova fase musical do meu trabalho, tornando-o mais universal – dialogando com
outras culturas – sem perder minha identidade brasileira.
Para
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