segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Entrevista com Letícia Novaes / Interview with Letícia Novaes






















Lembro-me do primeiro contato que tive com o Letuce, vendo-os no palco da Mostra Prata da Casa 2011, do Sesc Pompéia. Não sabia nada da banda de Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos antes de assistir ao seu show, exatamente como eu prefiro, e fui tomado pela força de sua performance logo na primeira música. Naquela época já tinham lançado um CD, “Plano de fuga pra cima dos outros e de mim” (2009), seguido no ano de 2012 por “Manja perene”. Por sorte dos ouvintes, ambos capturam aquela mesma energia da banda carioca nos palcos. Letícia Novaes é a primeira dos artistas entrevistados pelo Cultura Artfício e esta não poderia ser uma escolha mais apropriada, pois ela representa perfeitamente a geração atual de artistas, que, majoritariamente, sobrevive de forma independente: é multifacetada e seu maior compromisso é com a liberdade na criação de sua obra. A entrevista, como todas que virão, foi realizada por e-mail, de forma que o respondente faça literalmente parte da cultura que propomos e tenha tempo para refletir sobre as questões em pauta. Serão sempre as mesmas perguntas, independente da proveniência do entrevistado, pois seu ofício é um assunto comum a todos os que têm a arte como trabalho. Contudo, sempre que possível, nos reuniremos pessoalmente a eles, de forma que possamos partilhar com você momentos de suas rotinas de trabalho. No caso de Letícia Novaes, o encontro aconteceu antes de um show em uma casa noturna na capital paulista, em 30/11/2012. As fotos são de Bruno Caetano. A entrevista segue abaixo:

1.   Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Meu avô e meu tio avô tocando violão, estilo seresteiros. A casa toda parava e ficava admirando, e eu era criança, mas já entendia que aquele era um momento sagrado, não era qualquer coisa.

2.      Qual a sua formação?

Me formei em teatro, fiz curso de línguas, porque sou filha de professora de francês, então sempre curti, sempre gostei. Depois, já na música, fiz aula de voz, de canto, fono, musicalização, pra ajudar um pouco mais, mas confesso que sou completamente instintual na música, e claro que devo carregar algum gene musical do avô que tocava violão de seresta.

3.      Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Foi algo que aconteceu, acabei o colégio e fui fazer faculdade de letras, mas me decepcionei bastante com a formalidade e caretice do meio acadêmico. Minha mãe que sabia que eu era feliz no cursinho de teatro da adolescência, disse "minha filha, vai fazer teatro então", foi muito bonito isso ter vindo dela, parece que me liberou para ter uma escolha mais livre, eu ainda não entendia que teatro poderia ser uma opção. Depois que comecei o curso, senti que não haveria volta.

4.      Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Tive uma banda de rock com 22 anos, foi meu primeiro contato com esse universo de "ter banda". Depois tive banda de música eletrônica, tocávamos em boates, raves, outro universo, sabe? Mas tudo também colaborou pra minha mente musical. Com 25 anos conheci o Lucas, sabia que ele era músico mesmo. Nos apaixonamos e naturalmente fomos nos especulando musicalmente. Em 2008 lançamos nossa banda, Letuce, e fomos fazendo shows por aí, até que em 2009 lançamos nosso primeiro disco, e foi uma história bem bonita e o pouco, porém carinhoso, reconhecimento que temos, é muito bom, porque reflete nossa naturalidade e espontaneidade com a coisa.

5.      Quais artistas lhe influenciaram?

Na literatura: Susan Sontag, Susan Miller, Chico Bento, Sylvia Plath, Adélia Prado, Rosa Montero, Hilda Hilst. Na música: Maria Bethânia, PJ Harvey, Juana Molina, Janis Joplin. Resumi, obviamente, porque todos já devem ter me influenciado em algum nível. Só citei alguns.

6.      Quando passou a se considerar profissional?

Não sei se já me considero, viu? Sou extremamente profissional com as minhas obrigações, caso contratem um show, mas dentro do coração, ainda não sinto isso.

7.      Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Nenhuma, não fazia ideia, não visualizava glamour, porque nunca tive artista na família, não tinha ideia do que poderia ser, mas também não imaginava que fosse tão perrengoso como é.

8.      Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que é um trabalho como outro qualquer, só que envolve hedonismo e criatividade, mas também exige obrigações e também te causa dúvida e insegurança. Mas sim, é divertidíssimo, para mim, assim como advogar deve ser divertido para outros.

9.      Como é o seu dia de trabalho?

O mais variado possível. Há dias que apenas existo e sou ou não inspirada pelo que me cerca em minha casa ou na rua, ou há dias em que acordo 5 da manhã, gravo alguma cena de um teste que fiz e passei, de tarde passo o som para um show, faço stand up antes em algum teatro e depois corro para o show. Dias calmos e dias intensos. Sempre assim.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Meu trabalho foi e é completamente beneficiado com a internet e as redes sociais. Não sou do tipo que reclama da modernidade, posso até ter nostalgia com algumas coisas, mas não com isso. Adoro essa possibilidade livre, direta, maluca de postar uma foto ou uma música e alguém no Piauí poder ouvir em seguida.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

É possível, mas no meu caso preciso me desdobrar, me multifacetar, o que pode ser divertido, mas uma hora é bem cansativo também e te falta tempo para dar foco para apenas uma atividade. Se eu fosse apenas cantora, hoje em dia, não conseguiria sobreviver, mas porque faço locução vez ou outra, atuo vez ou outra, faço stand up vez ou outra, sou redatora vez ou outra, aí sim consigo.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Não faço a menor ideia... Mas espero que a arte seja mais respeitada e estimulada no Brasil, desde criança. É muito importante isso, tem que vir desde pequeno, se não, quando são adultos, estranham o que é diferente, alternativo. Com estímulo desde cedo, esse universo já se torna mais normal.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Acho que já falo bastante (risos). Gosto de responder o que perguntam.

Para conhecer mais do trabalho de Letícia Novaes, visite a página oficial do Letuce:
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Para ver mais fotos tiradas por Bruno Caetano do encontro com a artista e do show da banda, visite a página do Cultura Artfício no Flickr:
www.flickr.com/photos/21249170@N02/collections/72157632162642795/


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I remember the first contact I had with Letuce, watching them on the stage of Mostra Prata da Casa, at SESC Pompéia. I didn’t know anything about the band of Letícia Novaes and Lucas Vasconcellos before watching its concert, exactly the way I prefer, and was taken by the force of its performance right in the first song. At that time they had already released a CD, “Plano de fuga pra cima dos outros e de mim” (2009), followed in 2012 by “Manja perene”. Luckly for its listeners both capture that same energy of the Carioca band onstage.  Letícia Novaes is the first of the artists interviewed by Cultura Artfício and it couldn’t have been a more appropriate choice, for she perfectly represents the current generation of artists that majoritarily survive independently: she is multifaceted and her greatest commitment is with the liberty in creating her work. The interview, as well as the others that will come, was done by e-mail, in a way that the respondent can literally take part on the culture we propone and have time to reflect over the discussed questions. All interviews will contain the same questions, independently of the interviewee’s provenance, as their craft is a common subject to all who have art as a work. However, whenever it’s possible, we’ll reunite personally with them so we can share with you moments of their work routine. The meeting with Letícia Novaes happened before a concert at a nightclub in the Paulista capital, on 11/30/2012. The pictures are from Bruno Caetano.

Visit the official homepage of Letuce to know more of Letícia Novaes’ work.
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Visit the Culture Artfice page on Flickr to see more pictures taken by Bruno Caetano of the meeting with the artist and the concert of the band:


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P.S.: The interviews won't be translated by now, only the texts that preceed them, as just read.
P.P.S.: The English translation of the questions asked follows below, so you can have an idea of what is discussed during the interviews:

1)     What were the first contacts you remember having with art as an spectator?
2)     What is your formation?
3)     When and how did it occur you to be an artist? Was there a moment in which this was    a clear intent or was it something that happened?
4)     Can you tell us a little bit of your carreer?
5)     Which artists influenced you?
6)     When did you start considering yourself a professional?
7)     What was the idea you had of the profession before exercising it?
8)     What is the idea you have of the profession now that you exercise it?
9)     How is your workday?
10)  Has your work been benefited with the Internet and the social networks? How?
11)  Is it possible to pay the bills having art as a labor? How do you do it?
12)  How do you believe the future of your profession will be?
13)  Talk about what you’d like of your craft but no one ever asks you. 






2 comentários:

  1. Adoro a banda e adorei a matéria.
    Parabéns pela proposta.

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  2. =) maravilhosa cantora, ótima pessoa, gosto demais. a entrevista foi necessária, obrigada, letícia!

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