Quando
se trata de palco, existem músicos e músicos. Polarizando, os que o ocupam
timidamente e os que o tomam para si simplesmente ao pisá-lo. Caio Echem
claramente está entre os últimos. Vendo sua desenvoltura e a conexão que estabelece
de imediato com a plateia, é impossível não imaginá-lo cantando para grandes
públicos. Importa dizer que existem muitas variações entre as polaridades
citadas, tal qual nos próprios extremos. Não pense que todo artista que domina
habilmente o palco precisa ser popularesco. A música do Caio Echem, acompanhado
pelo Groove Team, transpira jovialidade com seu som swingado e grande potencial
pop, mas com arranjos de uma elaboração rara na música com intenção radiofônica
produzida atualmente. Ao lerem sua entrevista, ficará claro que existem muitos
outros fatores além do talento que levam um(a) cantor(a) ou banda ao estrelato.
Se fosse só pela qualidade, sua música “Vou descer ali na feira” estaria
estourada nas FMs. Ou, em minha versão de Mallu Magalhães, eu tô ficando velho
e tô ficando louco. Na verdade, doido está o mercado que continua a operar sob
a lógica do jabá, que vem comendo seu próprio rabo ao somente promover músicas
descartáveis, que não compõem um catálogo robusto para ser comercializado no
futuro. E não me refiro somente ao que se convencionou entender por MPB, mas
também ao dito Pop/Rock. As fotos de Caio Echem ensaiando foram feitas por
Juliana Mascaretti. A sua entrevista segue abaixo:
1. Quais os primeiros contatos que você se
lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Pelo que me lembro, meu primeiro contato
com a música foi aos 10 anos no carro da minha avó, ela adorava samba e nós
sempre ouvíamos grupos de samba. Depois, mais tarde, aos 12 anos eu estava na
casa do meu primo e ele
me mostrou um disco do AC/DC.
2. Qual a sua formação?
Estudei música na Faculdade de Música
Carlos Gomes, porém não cheguei a concluir, tranquei o curso porque comecei a
me questionar se o investimento na faculdade era tão necessário para minha
carreira, sendo que eu já tinha em mente vender meu trabalho e sabia
que, para isso, eu também teria que investir bastante dinheiro. O que vou dizer
pouquíssimas pessoas falam, mas para gravar um disco com um produtor renomado
ou em um grande estúdio, é necessário um investimento em torno de cinco mil
reais por música a ser gravada, ou seja, um disco de dez músicas custa em torno
de cinquenta mil reais. Fora isso, existe o investimento na divulgação do
material que é outro processo no qual mais
dinheiro é investido.
3. Quando e como lhe
ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou
foi algo que aconteceu?
Desde que eu comecei a tocar
profissionalmente já tinha em mente viver de música, isso foi mais ou menos aos
16 anos, porém eu era muito novo e não tinha maturidade para tratar como
um trabalho.
4.
Você
pode nos contar um pouco da sua carreira?
Comecei a tocar aos 12 anos, aos 13 tive
minha primeira banda com meu amigo de classe Fred Ouro Preto. Como era uma
banda de escola que nunca saiu do estúdio, serviu mesmo para aprendermos a
tocar em grupo. Depois, dos 13 aos 16 anos, tive outra banda de músicas covers,
com a qual tocávamos em bares e festivais de bandas de escolas. Aos 18
anos tive uma banda que se chamava Sorriso Vertical, formada por mim, Fred Ouro
Preto, Adolfo Moreira, Anderson Souza e Felipe Rodrigues, que foi quando
chegamos mais próximo de onde queríamos. Nessa época eu já gravava minhas
músicas em casa com um equipamento bem precário. Quando finalizamos as músicas,
pegamos meu computador, levamos para o estúdio de um amigo e foi a
primeira vez que gravei com uma banda ao vivo. Com essa banda abrimos shows de
grandes artistas como Capital Inicial, Marcelo Nova, Tia Anastácia, Marcelo D2 e Jota
Quest. E tocamos
em grandes casas como Credicard Hall, Via Funchal e em
eventos das prefeituras de diferentes estados. Depois fizemos um vídeoclipe e colocamos
na MTV, tínhamos tudo para dar certo, tínhamos as portas abertas porque um dos
vocalistas, o Fred Ouro Preto é sobrinho do Dinho Ouro Preto, vocalista do
Capital Inicial. Mas éramos muito imaturos ainda, precisávamos de um produtor
ou alguém que pusesse as coisas no lugar. Tínhamos a intenção de colocar as
músicas nas rádios, mas haviam muitos palavrões, as letras falavam muita
besteira, coisas de garotos novos e dessa forma era inviável vender nosso
trabalho, mas não ouvíamos ninguém. Por fim, essa banda se desestabilizou,
chegou em um ponto onde ou mudávamos para poder ir a diante, ou parávamos por
ali e foi
o que fizemos. Depois fui estudar Jazz, montei um trio de jazz instrumental,
nessa época conhecei um saxofonista chamado Remi Chatain e o chamei
para gravar algumas linhas no meu disco de musica instrumental. Ele me
apresentou a outros músicos e acabamos montando uma banda que ainda
existe, mas eu não faço mais parte, chamada Loungetude 46. Gravamos um CD,
tocamos em diversas casas alternativas e participamos de diversos festivais. Fiquei
nela mais ou menos dois anos e percebi que não tinha mais como eu
permanecer no grupo, pois eu queria coisas diferentes para mim. Durante esse
período com o Loungetude 46, toquei paralelamente com um grupo de samba rock,
mas eram apenas músicas covers, fizemos festas de casamentos, bares etc.. Quando sai da banda, me vi livre e pronto para fazer o que eu pretendia,
porém estava sozinho. Gravei um CD com minhas músicas instrumentais que eu
sempre quis, mas sem a intenção de divulgar pra valer. Foi então que minha
garota Juliana Mascaretti disse para eu mesmo cantar e gravar
minhas canções. Até então eu fazia apenas a segunda voz nas bandas que
participei, nunca tive a intenção de me tornar vocalista. O que eu queria era
ser instrumentista, mas por uma questão de sobrevivência me tornei vocalista e comecei
a gravar minhas músicas. Me identifiquei bastante com a historia do Lobão, foi
mais ou menos assim que ele começou também. Atualmente tenho uma banda que me acompanha
que eu prefiro chamar de "time". Hoje ela é formada por Pedro Caram,
Guilherme Rocha, Marcelo Lervolino e Felipe Rodrigues (que tocou comigo anteriormente
na banda Sorriso Vertical). Estou terminando de gravar meu CD, que teria inicialmente
11 musicas, mas preferi dividi-lo em dois e lançá-lo como dois
EPs separados. Um com as músicas mais funkeadas, que leva o nome de uma das canções,
"Não nos renderemos nunca", e o outro com as baladas, que também
leva o nome de uma de suas músicas, "Fora do Eixo".
5.
Quais
artistas lhe influenciaram?
Essa é uma pergunta difícil porque eu
poderia citar de tudo, mas para não ficar tão extenso, vou falar os que mais me
marcaram. Angus Young, o guitarrista do AC/DC – queria tocar como ele logo que comecei, me vestindo de terninho nos primeiros shows em festas de
escola. Nelson Faria, Pat Metheny e John Schoefild foram alguns que me
influenciaram muito quando comecei a estudar Jazz. Skank, Paralamas do Sucesso,
Lenine, Lobão, Bob Schneider, John Mayer e Jazon Mraz são bandas/cantores que ouço muito até hoje.
6.
Quando
passou a se considerar profissional?
Foi as 18 anos, com a banda Sorriso
Vertical. Porém, só hoje, com 27 anos, acho que realmente trato a música como um
trabalho.
7. Qual era a ideia que você tinha da
profissão antes de exercê-la? /
8. Qual é a ideia que você tem da
profissão hoje que a exerce?
Eu pensava que grandes artistas
realmente viviam apenas de música. Hoje percebo que é muito difícil viver
apenas da música porque um disco pode ser mais aceito que o outro e por isso
não render da mesma forma. Ninguém diz, mas muitos dos grandes artistas
investem dinheiro em coisas relacionadas a outro segmento, para não dependerem
apenas da música.
9. Como
é o seu dia de trabalho?
Atualmente, como estou terminando meu
disco, desde cedo começo a trabalhar nele. Acordo e já
começo a ouvir, mixar, gravar e regravar tudo que for necessário para que
fique pronto logo.
10. Seu
trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
De certa forma foi, mas ainda não tive o
retorno que eu quero com a internet. Diferente do que muita gente pensa, também
é necessária uma certa assessoria para fazer sucesso nas redes sociais, não
basta postar o material.
11. É
possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Não, atualmente é inviável pagar contas e viver
com a renda da música porque quando se é pequeno os cachês são baixos e muitas
vezes precisamos de shows para divulgação, que geralmente não são
remunerados. E, no
meu caso, que sou um "cantor solo", o disco leva meu nome e não o de
uma banda, portanto, o investimento não é dividido, tenho que arcar com tudo
sozinho e com
o dinheiro que entra eu pago os músicos, o estúdio, esse tipo de coisa.
12. Como
você acredita que será o futuro da sua profissão?
Acredito que cada vez mais o artista
viverá dos shows, pois a venda de CDs já era há muito tempo e o artista nunca ganhou de verdade com isso, quem
faturou sempre foi a indústria. O que está acontecendo atualmente é o
crescimento de pequenas agências que promovem o artista "uma vez que ele
não precisa mais da gravadora". Ou seja, fecharam o mercado e para você
conseguir entrar precisa "pagar por contatos".
13. Fale sobre o que você gostaria do seu
trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Nunca perguntam sobre os detalhes e eu os
acho super importantes, como os timbres que usei para gravar as guitarras e violões,
os detalhes da bateria... Por exemplo, na música "Não vai amanhecer",
ela foi tocada como se fosse um "loop", quase não tem viradas e em
vários compassos não tem a primeira nota do Hi Hat, isso para dar a leve
sensação que o andamento leva a batida para trás. Também não têm pratos, que
é para dar a ideia daquelas batidas de hip-hop. Nas bases troquei as guitarras
por violões, foi uma ideia que tive para colocar minhas musicas dentro do
padrão sonoro atual, deixando o som mais acústico. Fiz isso porque o mercado
hoje está usando muito violão nessas gravações de sertanejo, e como o ouvido das pessoas já esta acostumando com
isso, não seria um choque ouvir uma canção minha. Acho importante dizer que a
música é arte, mas também um produto, e aqueles que pretendem
viver de música precisarão vendê-lo. Já vi muitos músicos dizendo "não vou
me vender" e eu
digo que a frase "me vender" não pode ter esse caráter pejorativo, pois
isso é extremamente importante. É como montar um restaurante: o objetivo é
vender comida, se você faz um prato que ninguém quer comer, você não vai ganhar
dinheiro e falirá. Mas isso não significa que tenha que fazer a
mesma comida que todos os restaurantes. Acho importante a pesquisa, para
que possa de alguma forma fazer músicas que realmente goste, ao mesmo tempo tornando-as vendáveis
no mercado atual. Sempre repito a frase que ouvi do produtor Paulo Anhaia, que
disse que musico não é um semi-deus e sim um operário. Um operário da arte,
porém um operário. Então, colegas músicos, tenham mais humildade e respeitem
o trabalho de outros músicos e outros estilos, não existe uma verdade
única na musica.
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Sou fã desse garoto! Torço por ele porque tem muito talento, além de ser um cara do bem!!
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