sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Entrevista com Caio Echem





Quando se trata de palco, existem músicos e músicos. Polarizando, os que o ocupam timidamente e os que o tomam para si simplesmente ao pisá-lo. Caio Echem claramente está entre os últimos. Vendo sua desenvoltura e a conexão que estabelece de imediato com a plateia, é impossível não imaginá-lo cantando para grandes públicos. Importa dizer que existem muitas variações entre as polaridades citadas, tal qual nos próprios extremos. Não pense que todo artista que domina habilmente o palco precisa ser popularesco. A música do Caio Echem, acompanhado pelo Groove Team, transpira jovialidade com seu som swingado e grande potencial pop, mas com arranjos de uma elaboração rara na música com intenção radiofônica produzida atualmente. Ao lerem sua entrevista, ficará claro que existem muitos outros fatores além do talento que levam um(a) cantor(a) ou banda ao estrelato. Se fosse só pela qualidade, sua música “Vou descer ali na feira” estaria estourada nas FMs. Ou, em minha versão de Mallu Magalhães, eu tô ficando velho e tô ficando louco. Na verdade, doido está o mercado que continua a operar sob a lógica do jabá, que vem comendo seu próprio rabo ao somente promover músicas descartáveis, que não compõem um catálogo robusto para ser comercializado no futuro. E não me refiro somente ao que se convencionou entender por MPB, mas também ao dito Pop/Rock. As fotos de Caio Echem ensaiando foram feitas por Juliana Mascaretti. A sua entrevista segue abaixo:

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Pelo que me lembro, meu primeiro contato com a música foi aos 10 anos no carro da minha avó, ela adorava samba e nós sempre ouvíamos grupos de samba. Depois, mais tarde, aos 12 anos eu estava na casa do meu primo e ele me mostrou um disco do AC/DC.

2.     Qual a sua formação?

Estudei música na Faculdade de Música Carlos Gomes, porém não cheguei a concluir, tranquei o curso porque comecei a me questionar se o investimento na faculdade era tão necessário para minha carreira, sendo que eu já tinha em mente vender meu trabalho e sabia que, para isso, eu também teria que investir bastante dinheiro. O que vou dizer pouquíssimas pessoas falam, mas para gravar um disco com um produtor renomado ou em um grande estúdio, é necessário um investimento em torno de cinco mil reais por música a ser gravada, ou seja, um disco de dez músicas custa em torno de cinquenta mil reais. Fora isso, existe o investimento na divulgação do material que é outro processo no qual mais dinheiro é investido.

3.     Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Desde que eu comecei a tocar profissionalmente já tinha em mente viver de música, isso foi mais ou menos aos 16 anos, porém eu era muito novo e não tinha maturidade para tratar como um trabalho.

4.      Você pode nos contar um pouco da sua carreira? 

Comecei a tocar aos 12 anos, aos 13 tive minha primeira banda com meu amigo de classe Fred Ouro Preto. Como era uma banda de escola que nunca saiu do estúdio, serviu mesmo para aprendermos a tocar em grupo. Depois, dos 13 aos 16 anos, tive outra banda de músicas covers, com a qual tocávamos em bares e festivais de bandas de escolas. Aos 18 anos tive uma banda que se chamava Sorriso Vertical, formada por mim, Fred Ouro Preto, Adolfo Moreira, Anderson Souza e Felipe Rodrigues, que foi quando chegamos mais próximo de onde queríamos. Nessa época eu já gravava minhas músicas em casa com um equipamento bem precário. Quando finalizamos as músicas, pegamos meu computador, levamos para o estúdio de um amigo e foi a primeira vez que gravei com uma banda ao vivo. Com essa banda abrimos shows de grandes artistas como Capital Inicial, Marcelo Nova, Tia Anastácia, Marcelo D2 e Jota Quest. E tocamos em grandes casas como Credicard Hall, Via Funchal e em eventos das prefeituras de diferentes estados. Depois fizemos um vídeoclipe e colocamos na MTV, tínhamos tudo para dar certo, tínhamos as portas abertas porque um dos vocalistas, o Fred Ouro Preto é sobrinho do Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial. Mas éramos muito imaturos ainda, precisávamos de um produtor ou alguém que pusesse as coisas no lugar. Tínhamos a intenção de colocar as músicas nas rádios, mas haviam muitos palavrões, as letras falavam muita besteira, coisas de garotos novos e dessa forma era inviável vender nosso trabalho, mas não ouvíamos ninguém. Por fim, essa banda se desestabilizou, chegou em um ponto onde ou mudávamos para poder ir a diante, ou parávamos por ali e foi o que fizemos. Depois fui estudar Jazz, montei um trio de jazz instrumental, nessa época conhecei um saxofonista chamado Remi Chatain e o chamei para gravar algumas linhas no meu disco de musica instrumental. Ele me apresentou a outros músicos e acabamos montando uma banda que ainda existe, mas eu não faço mais parte, chamada Loungetude 46. Gravamos um CD, tocamos em diversas casas alternativas e participamos de diversos festivais. Fiquei nela mais ou menos dois anos e percebi que não tinha mais como eu permanecer no grupo, pois eu queria coisas diferentes para mim. Durante esse período com o Loungetude 46, toquei paralelamente com um grupo de samba rock, mas eram apenas músicas covers, fizemos festas de casamentos, bares etc.. Quando sai da banda, me vi livre e pronto para fazer o que eu pretendia, porém estava sozinho. Gravei um CD com minhas músicas instrumentais que eu sempre quis, mas sem a intenção de divulgar pra valer. Foi então que minha garota Juliana Mascaretti disse para eu mesmo cantar e gravar minhas canções. Até então eu fazia apenas a segunda voz nas bandas que participei, nunca tive a intenção de me tornar vocalista. O que eu queria era ser instrumentista, mas por uma questão de sobrevivência me tornei vocalista e comecei a gravar minhas músicas. Me identifiquei bastante com a historia do Lobão, foi mais ou menos assim que ele começou também. Atualmente tenho uma banda que me acompanha que eu prefiro chamar de "time". Hoje ela é formada por Pedro Caram, Guilherme Rocha, Marcelo Lervolino e Felipe Rodrigues (que tocou comigo anteriormente na banda Sorriso Vertical). Estou terminando de gravar meu CD, que teria inicialmente 11 musicas, mas preferi dividi-lo em dois e lançá-lo como dois EPs separados. Um com as músicas mais funkeadas, que leva o nome de uma das canções, "Não nos renderemos nunca", e o outro com as baladas, que também leva o nome de uma de suas músicas, "Fora do Eixo".

5.      Quais artistas lhe influenciaram?

Essa é uma pergunta difícil porque eu poderia citar de tudo, mas para não ficar tão extenso, vou falar os que mais me marcaram. Angus Young, o guitarrista do AC/DC – queria tocar como ele logo que comecei, me vestindo de terninho nos primeiros shows em festas de escola. Nelson Faria, Pat Metheny e John Schoefild foram alguns que me influenciaram muito quando comecei a estudar Jazz. Skank, Paralamas do Sucesso, Lenine, Lobão, Bob Schneider, John Mayer e Jazon Mraz são bandas/cantores que ouço muito até hoje.

6.      Quando passou a se considerar profissional?

Foi as 18 anos, com a banda Sorriso Vertical. Porém, só hoje, com 27 anos, acho que realmente trato a música como um trabalho.

7.     Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la? /
8.     Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Eu pensava que grandes artistas realmente viviam apenas de música. Hoje percebo que é muito difícil viver apenas da música porque um disco pode ser mais aceito que o outro e por isso não render da mesma forma. Ninguém diz, mas muitos dos grandes artistas investem dinheiro em coisas relacionadas a outro segmento, para não dependerem apenas da música.

9.   Como é o seu dia de trabalho?

Atualmente, como estou terminando meu disco, desde cedo começo a trabalhar nele. Acordo e já começo a ouvir, mixar, gravar e regravar tudo que for necessário para que fique pronto logo.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

De certa forma foi, mas ainda não tive o retorno que eu quero com a internet. Diferente do que muita gente pensa, também é necessária uma certa assessoria para fazer sucesso nas redes sociais, não basta postar o material.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Não, atualmente é inviável pagar contas e viver com a renda da música porque quando se é pequeno os cachês são baixos e muitas vezes precisamos de shows para divulgação, que geralmente não são remunerados. E, no meu caso, que sou um "cantor solo", o disco leva meu nome e não o de uma banda, portanto, o investimento não é dividido, tenho que arcar com tudo sozinho e com o dinheiro que entra eu pago os músicos, o estúdio, esse tipo de coisa.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Acredito que cada vez mais o artista viverá dos shows, pois a venda de CDs já era há muito tempo e o artista nunca ganhou de verdade com isso, quem faturou sempre foi a indústria. O que está acontecendo atualmente é o crescimento de pequenas agências que promovem o artista "uma vez que ele não precisa mais da gravadora". Ou seja, fecharam o mercado e para você conseguir entrar precisa "pagar por contatos".

13.   Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Nunca perguntam sobre os detalhes e eu os acho super importantes, como os timbres que usei para gravar as guitarras e violões, os detalhes da bateria... Por exemplo, na música "Não vai amanhecer", ela foi tocada como se fosse um "loop", quase não tem viradas e em vários compassos não tem a primeira nota do Hi Hat, isso para dar a leve sensação que o andamento leva a batida para trás. Também não têm pratos, que é para dar a ideia daquelas batidas de hip-hop. Nas bases troquei as guitarras por violões, foi uma ideia que tive para colocar minhas musicas dentro do padrão sonoro atual, deixando o som mais acústico. Fiz isso porque o mercado hoje está usando muito violão nessas gravações de sertanejo, e como o ouvido das pessoas já esta acostumando com isso, não seria um choque ouvir uma canção minha. Acho importante dizer que a música é arte, mas também um produto, e aqueles que pretendem viver de música precisarão vendê-lo. Já vi muitos músicos dizendo "não vou me vender" e eu digo que a frase "me vender" não pode ter esse caráter pejorativo, pois isso é extremamente importante. É como montar um restaurante: o objetivo é vender comida, se você faz um prato que ninguém quer comer, você não vai ganhar dinheiro e falirá. Mas isso não significa que tenha que fazer a mesma comida que todos os restaurantes. Acho importante a pesquisa, para que possa de alguma forma fazer músicas que realmente goste, ao mesmo tempo tornando-as vendáveis no mercado atual. Sempre repito a frase que ouvi do produtor Paulo Anhaia, que disse que musico não é um semi-deus e sim um operário. Um operário da arte, porém um operário. Então, colegas músicos, tenham mais humildade e respeitem o trabalho de outros músicos e outros estilos, não existe uma verdade única na musica.

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Um comentário:

  1. Sou fã desse garoto! Torço por ele porque tem muito talento, além de ser um cara do bem!!

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