sexta-feira, 12 de abril de 2013

Entrevista com Thiago Amaral


Cada vez que realizo pessoalmente ou recebo via e-mail uma entrevista do Cultura Artfício, fico fascinado com as reflexões que cada uma me incita, geralmente trazendo nova luz às sempre mesmas questões que são feitas a todos os entrevistados. Quando Thiago Amaral disse que passou a se considerar profissional ao discordar da visão que dissocia a formação pessoal da que profissionaliza, me deparei com as seguintes questões: Qual a linha que separa uma da outra? Seria a teoria mesmo apenas restrita à formação pessoal e a prática à profissional? Seguramente não. Este é mais um dos reducionismos utilizados para categorizar as coisas, sem devidamente problematizá-las. Afinal, a formação profissional não passa pelo apreender acadêmico? Se a divisão entre ambas existe, ela definitivamente é bem mais tênue do que a Wikipédia sugere. A colocação do artista em oposição à segregação do saber e da práxis, ao lado dos outros temas que aborda na entrevista que segue, no fim das contas se revelou um exemplo bastante ilustrativo de sua forma de perceber e realizar as coisas, que parece constantemente colocar os limites à prova. A Extinção dos coelhos selvagens”, seu solo que faz parte do espetáculo teatral “Ficção” junto às criações dos outros atores da Cia Hiato, desafia o limiar do real e do encenado. O mote é a retomada de sua relação com o pai, que participa da obra. Porém, nada mais emblemático de seu exercício de sobreposição de conceitos e possibilidades que a radicalização da ficção na realidade como o Coelho Amoral, híbrido de personagem e alter ego que de Thiago Amaral fez Amoral. O Coelho está solto e ele pode aparecer em qualquer lugar a qualquer hora: banhado de sangue acompanhado de uma criança no dia das eleições, ou participando de um flash mob de Bollywood Dance com mais de oitenta pessoas na avenida Paulista. Fiquem de olho nele! ”Ficção” está em cartaz na Caixa Cultural RJ, no Rio de Janeiro, de 11 de abril a 05 de maio, e no Centro Internacional de Teatro Ecum, em São Paulo, de 12 de abril a 12 de maio.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

No circo. Nas praças. Na casa de parentes que se juntavam para cantar antes e depois de um almoço de domingo farto e que eram transformados por uma alegria simples.

2. Qual a sua formação?

Artes Cênicas / USP / São Paulo; Zoologia / UFPR / Curitiba; Bollywood Dance / Índia; Clown / Quito.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Fiz artes plásticas, dança e música quando era filhote. Comecei com tinta óleo, axé music, lambada, flauta doce e piano.  Paralelamente eu fazia natação, handball, basketball e volley, quando tinha tempo. Futebol nunca me atrevi porque era realmente muito ruim. E sempre gostei de brincar de cientista em casa com minha coleção de bichos mortos no formol, microscópio e fitas VHS sobre os seres vivos. Além disso, nunca tive religião e sempre gostei de pular por todas. Descobri que o artista pode juntar muitas áreas, muitos assuntos, muitas práticas corporais e transitar por elas por tempo indeterminado ou determinado. Isso é um pouco libertador: levar meus interesses e desejos de pesquisa passearem por vários universos.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Já fiz animação de festa na Palestina. Já dei aula de dança e teatro no Timor-Leste. Já fui assistente de show de Mágica, em São Paulo.  Fiz bollywood dance na Índia. Tenho uma Companhia de Teatro, da qual faço parte como ator, que se chama Cia Hiato (ciahiato.com.br). Faço festas de Coelho. Já morei na Serra da Capivara - PI fazendo performances e body-art.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

A cada trabalho tenho novas influências e referências. A cada nova parceria um outro universo compartilhado. Difícil a resposta, mas há uma mestra que está no meu altar há 7 anos e que ainda vive: Cristiane Paoli Quito.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Quando discordei da Wikipédia, que diz o seguinte sobre a formação pessoal: “Formação Profissional não é igual à Formação Pessoal, como no caso do estudo de um tema ou matéria em particular no âmbito de uma investigação. Formação Profissional é de âmbito prático e Formação Pessoal do âmbito teórico, do estudo, do ensino.”

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Não tive julgamento pré-concebido. Quando vi já fazia por inocência, depois por alegria, depois por amor, depois por dinheiro. Hoje somo todas essas necessidades.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que é um laboratório livre.  Que é comunicação. Que é um atletismo das emoções. Que pode ser transformadora. Que deve ter um sentido pra mim. Que deve ser algo que me dê prazer.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Depende da época. Varia muito. Faço aulas que considero como treinamento do ofício: clown, bollywood, natação, musculação. Dou aula de interpretação e bollywood. Faço assistência de direção para a Isabel Teixeira com o terceiro ano da Escola de Arte Dramática (EAD). Ensaio e apresento meus espetáculos aos finais de semana, o que algumas vezes também acontece durante a semana.  Ensaio e produzo um novo espetáculo infantil com data de estreia marcada para Julho.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Sim. Você está me lendo pela internet. Através do meu blog e do Facebook eu compartilho as fotos que tenho feito. Divulgo e comunico o que faço pela rede. Porém, ainda preciso saber mais sobre esse campo e ampliar as possibilidades trazidas por ele.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Tem que ser. É a aposta que eu fiz. Tem dado até hoje. Mas ainda estou com o Renavam atrasado.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Não sei fazer essas projeções de mercado, de desenvolvimento da cultura, do teatro amanhã e de mim na arte amanhã. Vivo como se pudesse morrer logo mais.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Dou um jeito de colocar o assunto em pauta através do meu blog e do meu perfil no Facebook.

Para conhecer mais do trabalho de Thiago Amoral, visite sua página oficial:
Visite o site da Cia Hiato:
www.ciahiato.com.br
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Thiago Amoral.


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