Cada vez que realizo pessoalmente ou recebo via e-mail uma entrevista do Cultura Artfício, fico fascinado com as reflexões que cada uma me incita, geralmente trazendo nova luz às sempre mesmas questões que são feitas a todos os entrevistados. Quando Thiago Amaral disse que passou a se considerar profissional ao discordar da visão que dissocia a formação pessoal da que profissionaliza, me deparei com as seguintes questões: Qual a linha que separa uma da outra? Seria a teoria mesmo apenas restrita à formação pessoal e a prática à profissional? Seguramente não. Este é mais um dos reducionismos utilizados para categorizar as coisas, sem devidamente problematizá-las. Afinal, a formação profissional não passa pelo apreender acadêmico? Se a divisão entre ambas existe, ela definitivamente é bem mais tênue do que a Wikipédia sugere. A colocação do artista em oposição à segregação do saber e da práxis, ao lado dos outros temas que aborda na entrevista que segue, no fim das contas se revelou um exemplo bastante ilustrativo de sua forma de
perceber e realizar as coisas, que parece constantemente colocar os limites à
prova. “A Extinção dos
coelhos selvagens”, seu solo que faz parte do espetáculo teatral “Ficção”
junto às criações dos outros atores da Cia Hiato, desafia o limiar do real e do
encenado. O mote é a retomada de sua relação com o pai, que participa da obra.
Porém, nada mais emblemático de seu exercício de sobreposição de conceitos e
possibilidades que a radicalização da ficção na realidade como o Coelho Amoral,
híbrido de personagem e alter ego que de Thiago Amaral fez Amoral. O Coelho
está solto e ele pode aparecer em qualquer lugar a qualquer hora: banhado de
sangue acompanhado de uma criança no dia das eleições, ou participando de um flash
mob de Bollywood Dance com mais de oitenta pessoas na avenida Paulista.
Fiquem de olho nele! ”Ficção” está em cartaz na Caixa Cultural RJ, no Rio de
Janeiro, de 11 de abril a 05 de maio, e no Centro Internacional de Teatro Ecum,
em São Paulo, de 12 de abril a 12 de maio.
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
No
circo. Nas praças. Na casa de parentes que se juntavam para cantar antes e
depois de um almoço de domingo farto e que eram transformados por uma alegria
simples.
2.
Qual a sua formação?
Artes
Cênicas / USP / São Paulo; Zoologia / UFPR / Curitiba; Bollywood Dance / Índia;
Clown / Quito.
3.
Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma
intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Fiz
artes plásticas, dança e música quando era filhote. Comecei com tinta óleo, axé
music, lambada, flauta doce e piano. Paralelamente eu fazia natação, handball,
basketball e volley, quando tinha tempo. Futebol nunca me atrevi porque era
realmente muito ruim. E sempre gostei de brincar de cientista em casa com minha
coleção de bichos mortos no formol, microscópio e fitas VHS sobre os seres
vivos. Além disso, nunca tive religião e sempre gostei de pular por todas. Descobri
que o artista pode juntar muitas áreas, muitos assuntos, muitas práticas
corporais e transitar por elas por tempo indeterminado ou determinado. Isso é um
pouco libertador: levar meus interesses e desejos de pesquisa passearem por
vários universos.
4.
Você pode nos contar um pouco da sua carreira?
Já
fiz animação de festa na Palestina. Já dei aula de dança e teatro no
Timor-Leste. Já fui assistente de show de Mágica, em São Paulo. Fiz bollywood
dance na Índia. Tenho uma Companhia de Teatro, da qual faço parte como
ator, que se chama Cia Hiato (ciahiato.com.br). Faço festas de Coelho. Já morei
na Serra da Capivara - PI fazendo performances e body-art.
5.
Quais artistas lhe influenciaram?
A
cada trabalho tenho novas influências e referências. A cada nova parceria um outro
universo compartilhado. Difícil a resposta, mas há uma mestra que está no meu altar
há 7 anos e que ainda vive: Cristiane Paoli Quito.
6.
Quando passou a se considerar profissional?
Quando
discordei da Wikipédia, que diz o seguinte sobre a formação pessoal: “Formação
Profissional não é igual à Formação Pessoal, como no caso do estudo de um tema
ou matéria em particular no âmbito de uma investigação. Formação Profissional é
de âmbito prático e Formação Pessoal do âmbito teórico, do estudo, do ensino.”
7.
Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?
Não
tive julgamento pré-concebido. Quando vi já fazia por inocência, depois por
alegria, depois por amor, depois por dinheiro. Hoje somo todas essas
necessidades.
8.
Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?
Que
é um laboratório livre. Que é comunicação. Que é um atletismo das
emoções. Que pode ser transformadora. Que deve ter um sentido pra mim. Que deve
ser algo que me dê prazer.
9.
Como é o seu dia de trabalho?
Depende
da época. Varia muito. Faço aulas que considero como treinamento do ofício: clown,
bollywood, natação, musculação. Dou aula de interpretação e bollywood.
Faço assistência de direção para a Isabel Teixeira com o terceiro ano da Escola de Arte Dramática (EAD). Ensaio e apresento
meus espetáculos aos finais de semana, o que algumas vezes também acontece durante
a semana. Ensaio e produzo um novo espetáculo infantil com data de
estreia marcada para Julho.
10.
Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
Sim.
Você está me lendo pela internet. Através do meu blog e do Facebook eu
compartilho as fotos que tenho feito. Divulgo e comunico o que faço pela rede.
Porém, ainda preciso saber mais sobre esse campo e ampliar as possibilidades
trazidas por ele.
11.
É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Tem
que ser. É a aposta que eu fiz. Tem dado até hoje. Mas ainda estou com o Renavam
atrasado.
12.
Como você acredita que será o futuro da sua profissão?
Não
sei fazer essas projeções de mercado, de desenvolvimento da cultura, do teatro
amanhã e de mim na arte amanhã. Vivo como se pudesse morrer logo mais.
13.
Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Para conhecer mais do trabalho de Thiago Amoral, visite sua página oficial:
Visite o site da Cia Hiato:
www.ciahiato.com.br
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