quinta-feira, 4 de abril de 2013

Entrevista com Paolo DeMitri


Dentro de um museu vejo um sujeito de gravata verde fazendo truques para um grupo de visitantes. Fico atento, mas logo o show termina. Visito a exposição daquele andar e quando retorno ele ainda está por ali, sozinho, num terraço do prédio. Estou acompanhado de minha família e, depois de nos apresentarmos, pedimos a ele um truque. O homem sorri e engata uma conversa amistosa que aos poucos se revela parte do show que, não sabíamos, ele esperava o horário para começar na parte interna do local. Outros visitantes foram juntando-se a nós e tornando-se espectadores do que acontecia naquela interação iniciada tão espontânea e despretensiosamente. Aquele último espetáculo do dia não mais aconteceria em outro lugar, e sim ali mesmo. Conforme o nosso bate papo foi se transformando, sentei-me ao seu lado para observar os rostos de adultos e crianças que se contraíam em interrogações e se iluminavam em exclamações conforme ele fazia seus truques. Fomos os primeiros a chegar e os últimos a sair dali naquele fim de tarde, pois o meu amor pela arte e o compromisso de divulgá-la me incumbia de entrevistá-lo pelo Cultura Artfício. Seu nome é Paolo DeMitri e o que ele faz é mágica! O retrato do artista foi feito pelo Mágico Geraldin.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Em um primeiro momento, muito jovem ainda, lembro de ter visto um mágico na casa de um amigo meu. Só me lembro de um efeito... É até difícil dizer se isso, de fato, é uma lembrança ou uma pegadinha daquelas que o cérebro apronta. Na minha época de faculdade vi Paul e Jack em um bar, mágico que viria a ser um grande amigo, apresentando close-up (mágica de "proximidade", realizada próximo do espectador). Cerca de 15 anos depois do contato inicial quando criança tive o mais marcante, novamente em um bar (neste eu era bartender, uma variação de barman), o TGI Fridays. Foi onde eu conheci o Mário Kamia, outro que se tornou um grande amigo!

2. Qual a sua formação?

Na mágica sou autodidata. Comecei observando, li livros e assisti vídeos importados, com conteúdo teórico e prático. Fora isso, devo citar que tenho um grande amigo que é um dos maiores mágicos do Brasil e me ajudou muito pela sua experiência, o Élio (que eu chamo de Mestre).

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Sempre fui ligado às artes, tendo interesse em pintura, escultura, teatro, cinema e, lógico, mágica! Durante o tempo que trabalhei no TGI Fridays o meu diferencial foi o atendimento. Sempre gostei de conhecer gente diferente, outras histórias, e, durante a conversa, fazia algumas mágicas para o entretenimento dos meus clientes. Em 2002 eu saí de férias da empresa já decidido a não voltar. O que aconteceu é que tinha uma casa noturna em Itu, aonde eu me apresentava com frequência, então acabei optando por ficar apenas com as apresentações semanais nessa casa, até que comecei também a fazê-las em outro local, em Sorocaba. Quando voltei para São Paulo optei por ficar apenas com a carreira de artista!

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Sempre tive facilidade em me comunicar, o que criou um diferencial e facilitou minha entrada no meio mágico. Logo no início, trabalhei em parceria com alguns dos melhores e mais conceituados profissionais do Brasil. Comecei a frequentar reuniões destinadas a estudos da arte e até a fornecer produtos para as apresentações de outros mágicos. Fundei a Psycho Magic, com meu sócio Fernando Ventura, empresa que além de shows de mágica, oferece shows de hipnose, palestras e treinamentos corporativos. Venci o “Gran Prêmio Empreendedores do Mercosul 2011”, assim como um vice-campeonato e um terceiro lugar em competições de mágicos. No final de fevereiro de 2013, participei com meu sócio na categoria “Mágica Argumentada” (em síntese, uma apresentação com história), e, no “Congresso Latino-americano de Mágica” conseguimos o terceiro lugar, sendo que não houve primeiro por conta do critério de pontuação. Tenho também um programa na internet direcionado a mágicos, chamado “Programa AMAZING!”, no qual entrevisto alguns dos melhores do ramo no país.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Se formos considerar como influência artistas que de algum modo alteraram ou orientaram minhas apresentações, a lista é imensa! No Brasil citarei Élio, Rafael Versolato, Fernando Ventura, Rafael Baltresca e muito mais gente, então cometerei a sábia decisão de parar por aqui, pois você me deu apenas 8.975.345.224.116 caracteres para esta entrevista! Eu citaria ainda dois mágicos, um americano e um argentino, que têm como maior diferencial as suas apresentações e, de certa forma, me "mostraram" que eu poderia ir um pouco além do convencional. Eles são Amazing Johnathan e Merpin.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Essa é uma pergunta difícil... Quando decidi que iria viver da mágica? Quando comecei a encarar com seriedade? Quando fui reconhecido como mágico? Quando tirei DRT? Creio que a melhor resposta é "quando passei a dedicar meu dia ao treino, pesquisa, atendimento de clientes, prospecção e tudo que é relacionado ao meu trabalho, ao menos 8 horas por dia".

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Sempre vi como uma arte. Cresci vendo David Copperfield na TV e tinha muita admiração por ele, mas sempre soube que não era simplesmente estalar os dedos ou comprar uma varinha. Nunca tive uma impressão errada da profissão, que era fácil ou enganação.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que está um pouco poluída. Infelizmente, a mágica é atraente e impressionante, o que muitas vezes ilude mais quem a faz do que quem a vê!
Ela dá um poder pessoal que por vezes a pessoa acha suficiente e esquece que o mais importante é respeitar a arte e tratá-la com a mesma seriedade que merece o espectador.

9. Como é o seu dia de trabalho?

É muito variado. Depende da época do ano e da frequência de trabalho. Muitas vezes dedico o dia inteiro apenas para um show, revisando o material e ensaiando, outras vezes é só atender clientes, formatar o orçamento de acordo com a necessidade deles e organizar documentos.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Sim! São ferramentas de divulgação e contato muito eficazes. Com a Internet, muitas vezes o cliente tem um leque maior de opções, o que cria a necessidade de um diferencial. Com as redes sociais, você fica presente e lembra constantemente seus amigos do seu trabalho, pois as uso para divulgar shows abertos ao público e novidades. Como citei, também a utilizo para o meu programa de entrevistas, o AMAZING!, de forma a aproximar, ao vivo, os internautas dos melhores mágicos do Brasil.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Sim, há momentos com a agenda mais cheia que outros e é necessário administrar isso. Fazer uma programação dos seus custos/ganhos é a melhor forma.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Para se ter noção de como a situação é hoje, um projeto de show de mágica não é considerado um evento cultural pela Secretaria de Cultura! Isso demonstra que, no Brasil, a noção de cultura é distorcida para o público, mas há gente interessada em mudar isso. Acredito que esta luta para transformar a percepção das pessoas com relação ao que é cultura será o grande desafio dos mágicos.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Muitas vezes quem vê de fora não faz ideia. Dá trabalho, exige tempo e dedicação e não é tudo "num passe de mágica". Se você é daqueles que diz "não gosto de mágica", tenho uma má notícia: Você gosta de mágica, mas não deve gostar de algum mágico que transformou a arte em um duelo, que lhe provocou para que você adivinhasse algo ao invés de lhe fazer se emocionar ou lhe entreter, transformando esta experiência em algo inesquecível, no bom sentido. Se tem algo em um quadro que te desperta um sentimento ruim, a “culpa” não é da arte, é do pintor! O brasileiro ainda precisa ser educado para a arte, saber o que pode exigir de um artista. Reconhecer o que é um bom trabalho é difícil, mas quando isso ocorre a experiência torna-se surpreendente!

Para conhecer mais do trabalho de Paolo DeMitri, visite sua página oficial:
Assista ao seu "Programa AMAZING!":
http://programaamazing.blogspot.com.br/
E curta a sua página no Facebook para saber o que ele anda fazendo:
http://www.facebook.com/oSegundoMelhorMagicoDoMundo


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