Dentro de um museu vejo um sujeito de
gravata verde fazendo truques para um grupo de visitantes. Fico atento, mas
logo o show termina. Visito a exposição daquele andar e quando retorno ele
ainda está por ali, sozinho, num terraço do prédio. Estou acompanhado de minha
família e, depois de nos apresentarmos, pedimos a ele um truque. O homem sorri
e engata uma conversa amistosa que aos poucos se revela parte do show que, não
sabíamos, ele esperava o horário para começar na parte interna do local. Outros
visitantes foram juntando-se a nós e tornando-se espectadores do que acontecia
naquela interação iniciada tão espontânea e despretensiosamente. Aquele último
espetáculo do dia não mais aconteceria em outro lugar, e sim ali mesmo.
Conforme o nosso bate papo foi se transformando, sentei-me ao seu lado para
observar os rostos de adultos e crianças que se contraíam em interrogações e se
iluminavam em exclamações conforme ele fazia seus truques. Fomos os primeiros a
chegar e os últimos a sair dali naquele fim de tarde, pois o meu amor pela arte
e o compromisso de divulgá-la me incumbia de entrevistá-lo pelo
Cultura Artfício. Seu nome é Paolo DeMitri e o que ele faz é mágica! O
retrato do artista foi feito pelo Mágico Geraldin.
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Em um primeiro momento, muito jovem
ainda, lembro de ter visto um mágico na casa de um amigo meu. Só me lembro de
um efeito... É até difícil dizer se isso, de fato, é uma lembrança ou uma
pegadinha daquelas que o cérebro apronta. Na minha época de faculdade vi Paul e
Jack em um bar, mágico que viria a ser um grande amigo, apresentando close-up
(mágica de "proximidade", realizada próximo do espectador). Cerca de
15 anos depois do contato inicial quando criança tive o mais marcante, novamente
em um bar (neste eu era bartender, uma variação de barman), o TGI
Fridays. Foi onde eu conheci o Mário Kamia, outro que se tornou um grande
amigo!
2. Qual a sua formação?
Na mágica sou autodidata. Comecei
observando, li livros e assisti vídeos importados, com conteúdo teórico e
prático. Fora isso, devo citar que tenho um grande amigo que é um dos maiores
mágicos do Brasil e me ajudou muito pela sua experiência, o Élio (que eu chamo
de Mestre).
3. Quando e como lhe ocorreu ser
artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que
aconteceu?
Sempre fui ligado às artes, tendo
interesse em pintura, escultura, teatro, cinema e, lógico, mágica! Durante o
tempo que trabalhei no TGI Fridays o meu diferencial foi o atendimento. Sempre
gostei de conhecer gente diferente, outras histórias, e, durante a conversa, fazia
algumas mágicas para o entretenimento dos meus clientes. Em 2002 eu saí de
férias da empresa já decidido a não voltar. O que aconteceu é que tinha uma
casa noturna em Itu, aonde eu me apresentava com frequência, então acabei
optando por ficar apenas com as apresentações semanais nessa casa, até que
comecei também a fazê-las em outro local, em Sorocaba. Quando voltei para São Paulo optei por ficar apenas com a carreira de artista!
4. Você pode nos contar um pouco da sua
carreira?
Sempre tive facilidade em me comunicar,
o que criou um diferencial e facilitou minha entrada no meio mágico. Logo no
início, trabalhei em parceria com alguns dos melhores e mais conceituados profissionais
do Brasil. Comecei a frequentar reuniões destinadas a estudos da arte e até a
fornecer produtos para as apresentações de outros mágicos. Fundei a Psycho
Magic, com meu sócio Fernando Ventura, empresa que além de shows de mágica,
oferece shows de hipnose, palestras e treinamentos corporativos. Venci o “Gran
Prêmio Empreendedores do Mercosul 2011” ,
assim como um vice-campeonato e um terceiro lugar em competições de mágicos. No
final de fevereiro de 2013, participei com meu sócio na categoria “Mágica Argumentada”
(em síntese, uma apresentação com história), e, no “Congresso Latino-americano
de Mágica” conseguimos o terceiro lugar, sendo que não houve primeiro por conta
do critério de pontuação. Tenho também um programa na internet direcionado a
mágicos, chamado “Programa AMAZING!”, no qual entrevisto alguns dos melhores do
ramo no país.
5. Quais artistas lhe influenciaram?
Se formos considerar como influência
artistas que de algum modo alteraram ou orientaram minhas apresentações, a
lista é imensa! No Brasil citarei Élio, Rafael Versolato, Fernando Ventura,
Rafael Baltresca e muito mais gente, então cometerei a sábia decisão de parar
por aqui, pois você me deu apenas 8.975.345.224.116 caracteres para esta
entrevista! Eu citaria ainda dois mágicos, um americano e um argentino, que têm
como maior diferencial as suas apresentações e, de certa forma, me
"mostraram" que eu poderia ir um pouco além do convencional. Eles são
Amazing Johnathan e Merpin.
6. Quando passou a se considerar
profissional?
Essa é uma pergunta difícil... Quando
decidi que iria viver da mágica? Quando comecei a encarar com seriedade? Quando
fui reconhecido como mágico? Quando tirei DRT? Creio que a melhor resposta é
"quando passei a dedicar meu dia ao treino, pesquisa, atendimento de
clientes, prospecção e tudo que é relacionado ao meu trabalho, ao menos 8 horas
por dia".
7. Qual era a ideia que você tinha da
profissão antes de exercê-la?
Sempre vi como uma arte. Cresci vendo
David Copperfield na TV e tinha muita admiração por ele, mas sempre soube que
não era simplesmente estalar os dedos ou comprar uma varinha. Nunca tive uma
impressão errada da profissão, que era fácil ou enganação.
8. Qual é a ideia que você tem da
profissão hoje que a exerce?
Que está um pouco poluída. Infelizmente,
a mágica é atraente e impressionante, o que muitas vezes ilude mais quem a faz
do que quem a vê!
Ela dá um poder pessoal que por vezes a
pessoa acha suficiente e esquece que o mais importante é respeitar a arte e
tratá-la com a mesma seriedade que merece o espectador.
9. Como é o seu dia de trabalho?
É muito variado. Depende da época do
ano e da frequência de trabalho. Muitas vezes dedico o dia inteiro apenas para
um show, revisando o material e ensaiando, outras vezes é só atender clientes,
formatar o orçamento de acordo com a necessidade deles e organizar documentos.
10. Seu trabalho foi beneficiado com a
internet e as redes sociais? Como?
Sim! São ferramentas de divulgação e
contato muito eficazes. Com a Internet, muitas vezes o cliente tem um leque
maior de opções, o que cria a necessidade de um diferencial. Com as redes
sociais, você fica presente e lembra constantemente seus amigos do seu
trabalho, pois as uso para divulgar shows abertos ao público e novidades. Como
citei, também a utilizo para o meu programa de entrevistas, o AMAZING!, de
forma a aproximar, ao vivo, os internautas dos melhores mágicos do Brasil.
11. É possível pagar as contas tendo a
arte como ofício? Como você faz?
Sim, há momentos com a agenda mais
cheia que outros e é necessário administrar isso. Fazer uma programação dos
seus custos/ganhos é a melhor forma.
12. Como você acredita que será o
futuro da sua profissão?
Para se ter noção de como a situação é
hoje, um projeto de show de mágica não é considerado um evento cultural pela
Secretaria de Cultura! Isso demonstra que, no Brasil, a noção de cultura é
distorcida para o público, mas há gente interessada em mudar isso. Acredito que
esta luta para transformar a percepção das pessoas com relação ao que é cultura
será o grande desafio dos mágicos.
13. Fale sobre o que você gostaria do
seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Muitas vezes quem vê de fora não faz
ideia. Dá trabalho, exige tempo e dedicação e não é tudo "num passe de
mágica". Se você é daqueles que diz "não gosto de mágica", tenho
uma má notícia: Você gosta de mágica, mas não deve gostar de algum mágico que
transformou a arte em um duelo, que lhe provocou para que você adivinhasse algo
ao invés de lhe fazer se emocionar ou lhe entreter, transformando esta experiência
em algo inesquecível, no bom sentido. Se tem algo em um quadro que te desperta
um sentimento ruim, a “culpa” não é da arte, é do pintor! O brasileiro ainda
precisa ser educado para a arte, saber o que pode exigir de um artista. Reconhecer
o que é um bom trabalho é difícil, mas quando isso ocorre a experiência torna-se
surpreendente!
Para conhecer mais do trabalho de Paolo DeMitri, visite sua página oficial:
Assista ao seu "Programa AMAZING!":
http://programaamazing.blogspot.com.br/
E curta a sua página no Facebook para saber o que ele anda fazendo:
http://www.facebook.com/oSegundoMelhorMagicoDoMundo
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