quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Entrevista com Fran Ferreira







Pessoas, animais, objetos, natureza, palavra. Corpos que habitam espaços que os revelam e os guardam. O trabalho da artista visual curitibana Fran Ferreira carrega esta ambiguidade poderosa que instiga um olhar cuidadoso de quem tenta interpretá-lo. E não há pontos finais, mas reticências que eternizam infinitas possibilidades. Decifra-me ou devoro-te, parece dizer tal qual uma esfinge, tomando seus sentidos para si. Nem mesmo sua entrevista entrega os pontos. Contudo, a vida segue perseguindo a palavra que persegue a imagem que persegue a vida. Nem sempre nessa ordem. Esta é Fran Ferreira e este é o seu trabalho inebriante. O retrato da artista ao centro do mural foi feito em parceria com Mag NóliaBon voyage!

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Desde pequena folheava as enciclopédias que tínhamos em casa. Meu pai tinha uma coleção de vários artistas de proveniências diversas na arte e esse foi meu primeiro contato com ela, através dos livros. A música também foi importante, meus pais gostavam muito de fazer rodas com vários instrumentos musicais. Meu pai era um colecionador de máquinas fotográficas e de livros sobre fotografia; minha mãe foi dançarina na juventude e depois aspirante a pintora. Foi mais tarde que tive o primeiro contato com a arte contemporânea, que acabou mudando a minha forma de pensar.

2. Qual a sua formação?

Entrei na faculdade de artes, mas não dei conta da instituição. Estudei desenho e nunca fiz curso nenhum de fotografia. Estudo em casa. Todo dia.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Não tinha pensado em ser artista e quando vi já era muito tarde para pensar em não ser mais.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

2013:
- Trabalho em um projeto de nome Une Múltiplos, que propõe um diálogo entre a leitura, a conversação e a fotografia, ainda em processo de criação;
- A revista de arte contemporânea e poesia chamada Mallarmargens mostra meus três últimos trabalhos, sendo que “Plástico” foi produzido neste ano.

2012:
- Produzo os outros dois trabalhos exibidos na revista Mallarmargens, “Era uma vez uma multidão de realidades” e “Impregnando reminiscências áridas, foto e texto”.

2011: 
- Fiz o trabalho intitulado “Orgânico”, que resultou em um convite em aberto para uma residência no exterior.

2010:
- Participei da III Bienal Brasileira de Design com a instalação de arte/escultura “Boon”.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Os que mais me influenciaram e os que mais me inspiram são Jan Saudek, Edith de Camargo, Anna Diprospero, Magnolia, Ana Mendieta, Magritte, Ricardo Pozzo,  Polansky, Fernando Pessoa, Fenando Rosenbaum,  Heitor Villa Lobos, Janete Anderman, Louise Bourgeois, Bruno Machado, Cintia Ribas,  Paulo Leminski, Rimon Guimarães, Guimarães Rosa, Maria Caruso Paraguaia, André Azevedo, entre outros.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Difícil responder essa pergunta. O que aprendi pelo trajeto é que a arte é um chamado, uma inquietação, uma necessidade de registrar e comunicar o pensamento. Ela exige dedicação, portanto, é necessário se fazer disponível. Passei a me considerar profissional quando entendi que só o talento não basta, que é preciso trabalhar duro para ser bem-sucedida. 

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?

Que a arte era um pensamento.

8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Que a arte é uma ação.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Edito, leio, escrevo, fotografo, produzo.

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Sim, o que ainda é um acontecimento em processo. Mas estou mais interessada nas maneiras como as pessoas podem trabalhar juntas na internet para criar coisas que, de outra maneira, não seriam possíveis. Não fico necessariamente excitada com o uso exacerbado da tecnologia. Acredito que deve haver uma razão pela qual algo está sendo usado, de forma a apoiar ou aumentar o significado do está sendo produzido.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

Sim, trabalho muito. Tenho um ateliê em casa e um projeto paralelo ao meu autoral, o Livro Arte.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Com as novas conquistas humanas, acredito que a arte será uma inspiração a perspectivas mais abertas, servindo a objetivos sociais e à construção de um mundo mais consciente e educado.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Vou responder com o texto de uma poeta chamada Flora, chamado “Pelo fim do gozo do poder”:
“O homem prende o homem e o tortura, depois o chama de louco. Depois de privá-lo de sua subjetividade, adestrá-lo e alfabetizá-lo na língua morta dos cheios de razão, os que têm dificuldade evidenciam-se, irrecuperáveis retardatários do progresso: são as crianças hiperativas, os que lêem mal, os que são violentos, os que são reprovados, os que desistem de se inserirem no mundo dos que sabem mais e saem-se muito melhor e servem ainda com alta capacidade de produção, neste mundo em que tudo é máquina do poder e não da diferença que submerge aos ditos dos professores mal pagos e cruéis, abusadores fascistas de criancinhas de 3 anos. Sim, as escolhinhas estão cheias destas professorinhas e as creches e as escolas de primeiro grau e os sanatórios, e os tribunais e as delegacias e as prisões (não nas celas) e nos consultórios e nas pós-graduações: tudo que especializa e adestra o ser na medida exata ordenada de sua poda, em pedaços cada vez menores de si, até o último resquício da criatividade subjetiva que aquele ser pudesse desenvolver, se apoiado pelo amor ao diferente quando precisasse de suporte por tentar outra maneira de entender o mundo, ou de vestir a roupa, ou de amarrar os cadarços... Sim o mundo é um mundo de juízo final, como dizia Artaud_ não pelo fim de deus mas do seu julgamento_ de juízo total e final e definitivo e castrante, edipiano e coercitivo, que não sabe reconhecer responder na leitura das coisas um loop fechado de sua própria repetição exo-modelada,  fixa morta e decepada em padrões que ele copia por imposição velada,  beijando as próprias algemas do saber e do sentir e do desejar e do apaixona-se... Sim seres irrecuperáveis, depois de tanta crueldade e depois de serem extirpados de suas potencialidades e amarrados em seu aparente não saber o que não lhes explicaram duas vezes, ou três ou se preciso mais, aquele problema assim de forma mais paciente, que não lhes deixaram ser inteiros mesmo sem alguma capacidade que não lhes serve, que não lhes disseram que não precisariam ser nada do que não quisessem e ao contrário, lhes pressionaram a face ameaçando –lhes a integridade por causa de suas dificuldades e sem piedade lhes tiraram o direito de ter dificuldade e lhes fizeram maldades e lhes obrigaram a fazer maldades pela crueldade de imputar o fascismo em quem não imaginaria machucar o outro, e na velada selvageria lhes disseram : irrecuperável, incurável, levai-o... Assim, machucado, execrado, dilacerado, julgado, torturado, deixam-no  no canto que lhe sobra o sonho e soçobra as sobras da sociedade produtiva....corpo louco fugido das amarras do polvo i-mundo... A selvageria do homem é seu juízo, emérito e congratulado em medalhas de guerra... Pelos prêmios do que destruiu e matou nos outros, seja o corpo, a criatividade, a sanidade, o desejo, a poesia ou a veracidade. Logo, chamam-no, esse outro, de outro, de insano e sem ordem. Todos têm razão. Todos têm juízo. Não defendo os loucos, mas ataco os que lhes tiraram a sanidade com eletrochoques de eletricidade ou de tortura psíquica. E falo de quem? Não, não de mim, não é a mim que defendo...eu escapei por fino talvez por sorte ou por maleabilidade, não por não ter sofrido o teste do fascismo, talvez por amor ou por alguma coragem que desconheço a origem, e inseri-me a fui abraçada pelo polvo e de alguma forma desmembrei seus tentáculos em poesia ou talvez num texto que se entrega à coerência como quem segue à alguma corte marcial, com algum corte, mas resignado e aproveitando as ironias do momento em risadinhas salvas pelo humor. Embora ciente também adquiri modos com chaves e recentemente algum “modo researcher” (A), talvez algum anticorpo desse corpo de saber que impinge juízo. Estou bem, aviso: é por compaixão aos desajustados que enuncio. E depois do desabafo, é preciso voltar ao parágrafo...”.

Para conhecer mais do trabalho autoral de Fran Ferreira, visite seu blog, Volontà:
http://volontah.blogspot.com.br/
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