sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Entrevista com Guilherme Gaspar












Hoje a tecnologia nos permite desvendar o processo de feitura de qualquer tela, independente do século em que foi pintada, mas, entre outras questões, os custos acabam restringindo tal possibilidade a trabalhos referenciais na obra de grandes pintores.  Recentemente esteve em exposição no MASP a tela “Mulher de azul lendo uma carta”, de Vermeer, cuja restauração foi detalhada, assim como o progresso de sua pintura pelo artista, originalmente. Ou seja, olhamos o processo de execução da obra de trás para frente, a partir do trabalho finalizado. Contudo, esta ordem muitas vezes se inverte na atualidade, pois temos a possibilidade de observar a sua produção quase que em tempo real ou mesmo nele, se assim for do desejo de seu criador. Isso não somente nas Belas Artes, mas também em outras modalidades da arte, como na Música, através de vídeos que mostram o passo a passo da gravação de um disco ou de uma canção, por exemplo. Guilherme Gaspar, o ilustrador e artista plástico entrevistado pelo Cultura Artfício, faz uso de técnicas variadas em suas obras, realizando também instalações, esculturas, fotos e textos. A obra exibida em seu mural é uma ilustração intitulada “meei”, circundada pelo passo a passo de sua confecção. Nela, o artista, em retrato no canto superior direito da imagem, emulou uma pintura feita à tinta pincelada, com a intenção de suscitar o debate sobre as diferenças técnicas entre a ilustração digital e a pintura natural. Contudo, embora surjam novas possibilidades de execução da arte, a faísca da criação permanece inerente à percepção e aos sentimentos do artista. E isto é um fato comum a cada um deles, independente de qual a sua arte.

1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?

Excluindo as dezenas de desenhos animados antigos que eu adorava, como o clássico “Looney Tunes” ou “A Vaca e o Frango”, aquilo que eu considero como marcante foi ter visto pela primeira vez o filme “Akira”, de Katsuhiro Otomo, quando era bem novo. Era pesado, lindo e me deixava obcecado.

2. Qual a sua formação?

Sou aluno do 6° semestre do curso de Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?

Não, pois sempre me disseram que eu gostava de desenhar desde muito pequeno, antes mesmo do que a minha memória alcança. Isto se tornou intrínseco a mim. Não me vejo fazendo outra coisa.

4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?

Minha carreira está em processo, eu diria. Tentei design gráfico, porém o viés fortemente mercadológico me afastou, o que também aconteceu com a animação, logo após ter feito um curso dela em 2D. Estou próximo de me formar em Artes Visuais e busco fazer a arte em sua essência.

5. Quais artistas lhe influenciaram?

Hideaki Anno, criador da série de mangá e anime “Neon Genesis Evangelion”; Katsuhiro Otomo, criador do mangá “Akira”; os impressionistas; os construtivistas; e todos os artistas responsáveis pela ilustração da franquia “Dungeons & Dragons”, que me inspiraram à ilustração.

6. Quando passou a se considerar profissional?

Quando tive segurança de minha habilidade técnica para o mercado atual.

7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?/ 
8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?

Tinha uma idéia mais ingênua, pois quando era menor não imaginava que o mercado tivesse tanta influência sobre a arte. Muitas vezes nos submetemos a ele por necessidade financeira, voltando nossos esforços para áreas mais rentáveis, como o design e a publicidade. Essa perda de liberdade é frustrante, pois os prazos estúpidos e a demanda doentia do mercado de hoje amputa o processo criativo.

9. Como é o seu dia de trabalho?

Trabalhar em casa tem vantagens e desvantagens. Faço meu horário tendo meu conforto, mas muito conforto atrapalha!

10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?

Com certeza, não devemos menosprezar os novos meios de divulgação e comunicação. Por mais despretensioso que as pessoas possam achar, as redes sociais podem ser usadas com outra finalidade que o compartilhamento de informações inúteis, como para a divulgação de trabalhos das mais diversas ordens. Em minha opinião, a internet é a maior invenção do secundo XX.

11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?

É relativo. Trabalhando como freelancer segue-se uma lógica de que quanto mais se trabalha mais se ganha. E para trabalhar mais é só aceitar mais serviços. Considerando um trabalho especializado como a ilustração, paga-se muito bem. É uma boa fonte de renda quando se tem bons empregadores.

12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?

Penso que será cada vez mais virtual e que, no meu caso, será suficiente para o meu sustento. Não me atrevo a dizer mais que isso.

13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.

Gostaria que houvesse mais investimento em educação no país. Pode parecer clichê, mas, com isso, eu seria indiretamente beneficiado, não precisando me submeter a uma arte de mau gosto para ganhar algum trocado com a vida de freelancer. Pessoas mais esclarecidas têm maiores condições de apreciar a arte que não é apenas comercial.

Para conhecer mais do trabalho de Guilherme Gaspar, visite seu site:


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