Embora
a sustentabilidade seja uma questão socialmente desejável, as indústrias,
inclusive a cultural, ainda operam aparentemente majoritariamente sob a lógica
da obsolescência. Ela pode ser técnica ou funcional, quando uma nova versão com
avanços de um produto nestes quesitos é colocada no mercado. Programada ou
planejada, quando um item é feito de forma a parar de funcionar depois de
determinado tempo. E perceptiva ou percebida, quando são realizadas mudanças
estéticas e minimamente funcionais que façam o bem anterior parecer ultrapassado.
Com isso ele é substituído, portanto, (novamente) consumido. No caso da
indústria do disco, foi assim com o Long Play, com a Cassette, está sendo com o
Compact Disc e um dia será com o MP3 (sigla de MPEG-1/2 Audio Layer 3). No caso da indústria têxtil, com cores, cortes e
estampas a cada nova estação. E assim o mercado se movimenta, para bem e para
mal, de forma cíclica: hoje descartando para, muitas vezes, no futuro retomar.
Foi assim com o LP, está sendo assim com a K7, será com o CD e pouco
provavelmente com o MP3 por não se tratar de um bem com suporte físico – embora
uma retomada do formato seja possível pela reutilização de sua plataforma de
audição, o iPod (que sim, inevitavelmente entrará em desuso). Foi assim com a
calça skinny, está sendo com a mini saia e um dia será de novo com a calça
boca de sino. Tudo que vai pode voltar, só que para ser consumido novamente. E,
como dito no início do texto, não se trata de um privilégio apenas das
indústrias em exemplo. Diante desta lógica nefasta que coloca a necessidade de
lucro acima do consumo consciente, alguns profissionais preferem se dedicar a projetos
pessoais e fazê-los serem vistos através da internet e das redes sociais,
mantendo um trabalho paralelo que lhes garanta renda sem violentar seus ideais.
Trata-se do caso da designer Marcela Gil, que descobriu na fotografia a forma
principal de sua expressão artística. Qual o princípio ético que mais lhe
interessa? Os créditos das suas criações utilizadas no mural de imagens que são
realizadas em parceria seguem após a entrevista. Seu retrato, com máscara, ao
centro inferior esquerdo das imagens acima, foi feito por Bruno Rubet e pós
produzido por ela mesma.
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Desde criança reparava em objetos que eu chamava de "cheios de voltinhas". Gostava de tudo que tivesse muitas curvas e arabescos. Só na faculdade de Design, com 18 anos, descobri que aqueles móveis, luminárias, portões faziam parte de um mesmo conjunto, de um movimento artístico, o Art Nouveau. Nessa fase entrei em contato também com o Psicodelismo e o Dadaísmo que me influenciaram bastante.
2. Qual a sua formação?
1. Quais os primeiros contatos que você se lembra de ter tido com a arte como espectador(a)?
Desde criança reparava em objetos que eu chamava de "cheios de voltinhas". Gostava de tudo que tivesse muitas curvas e arabescos. Só na faculdade de Design, com 18 anos, descobri que aqueles móveis, luminárias, portões faziam parte de um mesmo conjunto, de um movimento artístico, o Art Nouveau. Nessa fase entrei em contato também com o Psicodelismo e o Dadaísmo que me influenciaram bastante.
2. Qual a sua formação?
Sou designer formada em Comunicação Visual pela PUC-Rio.
3. Quando e como lhe ocorreu ser artista? Houve um momento no qual esta foi uma intenção clara ou foi algo que aconteceu?
Não
me considero artista e sim designer. Meu foco de trabalho não é a criação de
objetos únicos como uma escultura ou uma pintura em tela. A reprodução em série
de uma mensagem direta é uma forma mais dinâmica de comunicação. Enquanto a
peça criada pelo artista plástico permanece fixa em um espaço de exibição, uma
peça gráfica desenvolvida por um designer e reproduzida em série tem o poder de
alcançar as pessoas onde elas estiverem. Tenho a fotografia como principal
ferramenta de expressão. Para mim é uma maneira de capturar imagens selecionadas
ou pré produzidas e aplicá-las em diferentes suportes através de técnicas
referentes ao design. Meu trabalho tem muito mais a ver com comunicação visual
do que com artes plásticas. A fronteira entre arte e design é um assunto que me
interessa bastante. Meu projeto final de faculdade não foi aceito pela banca,
inicialmente, pois o consideraram um projeto de artes plásticas e não de
design. Eu estava lidando com assemblagens, colagens de objetos. Somente quando
entrou a questão do suporte, no caso o cartaz que é uma ferramenta de
comunicação em massa, meu projeto foi aceito.
4. Você pode nos contar um pouco da sua carreira?
Passei
para Belas Artes e para Desenho Industrial. Escutei o tempo todo que se eu
optasse pela primeira morreria de fome. Fiquei com medo e segui os conselhos da
família. A princípio fiquei deslumbrada com o design, era uma variedade enorme
de possibilidades, ilustração, estamparia, fotografia, audiovisual, etc. Mas
com o tempo isso se tornou uma grande dúvida. Tentei perceber o que eu fazia
com mais alegria, mais naturalmente. Percebi que desde os 16 anos eu já usava a
fotografia como válvula de escape. A estamparia veio como uma forma perfeita de
espalhar imagens por diversas superfícies. Nessa época cheguei a desenvolver
roupas para uma marca própria. Em 2010 fui selecionada para a Bienal Brasileira
de Design com uma peça que fazia parte do meu projeto conclusão de curso. Isso
traçou todo o meu caminho profissional, conheci pessoas que foram fundamentais
para o meu amadurecimento. Passei por experiências interessantes na Brainbox
Design Estratégico em Curitiba, aqui em São Paulo fui assistente da ilustradora
Laura Teixeira e trabalhei com o Rico Lins no +Studio. Depois dessa passagem
por estúdios importantes, tive a certeza de que o meu caminho é mesmo a
fotografia. Ela me dá a possibilidade de explorar os dois lados, o comercial e
o criativo. Ela é uma ferramenta que me permite capturar estampas, figurinos,
cenários que eu venha a desenvolver. É uma maneira de unir as minhas diferentes
formas de expressão.
5. Quais artistas lhe influenciaram?
Alphonse
Mucha, Farnese de Andrade, Hélio Oiticica e Rico Lins são os primeiros que me
vêm à cabeça.
6. Quando passou a se considerar profissional?
Quando
participei da Bienal Brasileira de Design 2010 com o cartaz da Iemanjá senti
que algo tinha ficado diferente.
7. Qual era a ideia que você tinha da profissão antes de exercê-la?
Eu
acreditava que a função do design era atender às necessidades das pessoas da
melhor maneira possível. Que a definição da matéria-prima, dos processos de
produção, que os critérios de durabilidade, descarte, enfim, todas as etapas a
que um objeto é submetido, fossem coerentes com as necessidades atuais, como a sustentabilidade.
Isso também no que se refere à produção de peças gráficas e à comunicação
visual no geral.
8. Qual é a ideia que você tem da profissão hoje que a exerce?
Aprendi
sobre obsolescência programada. Aprendi que o foco não são as necessidades das pessoas
e do mundo que nos cerca, mas o mercado, a compra, a venda, o lucro. Muitas
vezes o que seria uma ferramenta para comunicar, vira uma ferramenta para
induzir as pessoas a um consumo impulsivo.
9. Como é o seu dia de trabalho?
Atualmente
trabalho com fotografia de produto e coordenação de vendas para a Galeria do
Rock. É um projeto que está em fase inicial, portando a rotina de trabalho
ainda está sendo definida. Mas estou envolvida em todas as etapas necessárias para a venda de um produto, tais como o seu recebimento, a geração de seu código no sistema, a feitura de sua foto, o controle de seu estoque etc.. Enfim, tudo.
10. Seu trabalho foi beneficiado com a internet e as redes sociais? Como?
Totalmente.
Esses meios possibilitam que o trabalho de artistas plásticos, designers,
músicos, e outros, sejam divulgados de forma independente. Você não precisa
atender à demanda de mercado para ter seu trabalho circulando, é possível
realizar projetos pessoais e fazê-los serem vistos.
11. É possível pagar as contas tendo a arte como ofício? Como você faz?
Não.
Meu trabalho "artístico" faço em paralelo, para dar vazão a questões
pessoais. Para pagar as contas tenho um trabalho fixo que me garante um valor X
no final do mês.
12. Como você acredita que será o futuro da sua profissão?
Creio
que cada vez mais as pessoas entenderão a necessidade e cobrarão um design de
qualidade, com foco na sustentabilidade.
13. Fale sobre o que você gostaria do seu trabalho, mas nunca lhe perguntam.
Não
costumo responder muitas perguntas sobre o meu trabalho, prefiro que as pessoas
apenas o sintam. Como pra mim funciona como uma válvula de escape gostaria que
para os outros funcionasse da mesma forma. Algo para sentir e não para
racionalizar.
-Fotografia Espelhos (imagem 4)
Para conhecer mais do trabalho de Marcela Gil, visite sua página oficial:
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Fotografia: Bruno Rubet
Direção de arte: Marcela Gil
-Fotografia materiais (imagem 8)
Fotografia e pesquisa de materiais: Marcela Gil
Oficina "Fios no Espaço" da Laura Teixeira
-Cartaz Oil (imagem 9)
É parte do projeto conclusão da PUC-Rio sob orientação de Julieta Sobral
Cartaz: Marcela Gil e Bruno Rubet
Fotografia: Bruno Rubet
-Máscara (imagem 10)
Fotografia: Bruno Rubet
Pós produção: Marcela Gil
-Iemanjá (imagem 12)
Cartaz realizado por Marcela Gil em workshop para a Bienal Brasileira de Design 2010 sob orientação de Marcos Minini, Daniel Trench e Rico Lins
Fotografia: Maico Amorim
Direção de Fotografia: Marcela Gil
-Fotografia Jonnata Doll (imagem 13)
Fotografia: Marcela Gil
Figurino e maquiagem Jonnata Doll: Marcela Gil e Carla Otaviano
Banda Jonnata Doll e Os Garotos Solventes
-Fotografia da banda Jonnata Doll e os Garotos Solventes (imagem 15)
Fotografia: Marcela Gil
Figurino e maquiagem Jonnata Doll: Marcela Gil e Carla Otaviano
Para conhecer mais do trabalho de Marcela Gil, visite sua página oficial:
http://marcelagildesign.com/
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